Por: Vanessa Navarro
Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), qualidade de vida é a percepção do indivíduo de sua posição na vida no contexto da cultura e sistema de valores nos quais ele vive e em relação aos seus objetivos, expectativas, padrões e preocupações.
A rotina atribulada, a busca incessante pela qualificação profissional para driblar a forte concorrência e as acrobacias para enfrentar a atual crise econômica podem ser fatores de risco para a saúde mental e física do cirurgião-dentista.
Para a Dayane Machado Ribeiro, cirurgiã-dentista, doutora e mestre em Odontologia em Saúde Coletiva, qualidade de vida é o equilíbrio das dimensões que norteiam a vida, por exemplo bem-estar, saúde, trabalho, renda, segurança, relações interpessoais, espiritualidade.
Diversos estudos apontam que a qualidade de vida dos cirurgiões-dentistas tem piorado ao longo do tempo, devido ao aumento nos riscos laborais e à alta competitividade no mercado de trabalho. Diante deste cenário, os cirurgiões-dentistas precisam repensar suas atitudes para reverter esse quadro. “De fato, a qualidade de vida dos cirurgiões-dentistas tem decaído. No que se refere o aumento de riscos laborais, os profissionais precisam adotar medidas preventivas para saúde e segurança no trabalho, assim como treinar a equipe de trabalho. Já em relação a alta competitividade do mercado, alguns pontos precisam ser trabalhados, como a capacitação em gestão. Os estudos demonstram que a competitividade aparece como fator de estresse ocupacional em função da pouca ou nenhuma formação destes profissionais em administração”, esclarece a também especialista em Endodontia.
Dayane explica que existem várias doenças que podem atingir a vida do dentista, entre elas o estresse ocupacional. “Todo trabalho possui agentes potencialmente estressores e que são comuns a praticamente todas as profissões”.
Sobre os mencionados agentes estressores, podemos dividi-los da seguinte forma:
- Fatores intrínsecos ao trabalho: condições de salubridade, jornada de trabalho, ritmo, riscos potenciais à saúde, sobrecarga de trabalho, novas tecnologias.
- Papel do indivíduo na organização: presença de ambiguidades e expectativas sobre comportamentos individuais.
- Relacionamento interpessoal: com superiores ou subordinados.
- Carreira e realização.
- Estrutura e o clima organizacional: ameaças potenciais à integridade do indivíduo, sua autonomia e identidade pessoal.
- Interface casa/trabalho.
“As características da Odontologia, como campo operatório de dimensões reduzidas; instrumentos geralmente com desenho inadequado, sendo muito deles idealizados no início da primeira metade do século passado; campo operatório com iluminação inadequada; ambiente de trabalho exposto a ruídos, entre outros aspectos, submetem o profissional a diversos agentes estressores, e caracterizam a Odontologia como uma das profissões mais estressantes”, enfatiza a especialista em Saúde Pública.
De olho na sua qualidade de vida
Uma das dicas mais importantes para manter a qualidade de vida é saber separar as horas de trabalho das horas de lazer. Essa dica, se respeitada, pode beneficiar o cirurgião-dentista e também o paciente, afinal equilibrar as dimensões da vida cotidiana é vital para a qualidade de vida, para a saúde e para a segurança no trabalho.
“A Odontologia exige muito fisicamente e mentalmente de seus profissionais, por isso é preciso cautela para não adoecer ou se lesionar. Gerenciar corretamente o tempo é fundamental, por exemplo, organizar agenda que permita horário de almoço, intervalo para um café e alongamento no meio da tarde. Reservar um tempo para atividade física também é essencial. Os benefícios são inúmeros. Um profissional saudável e feliz proporciona ao paciente uma experiência agradável e serviços de qualidade”, defende a cirurgiã-dentista.
Para atender às suas necessidades como pessoa, o cirurgião-dentista precisa perceber que, além de cuidar da saúde de seus pacientes, é preciso estar atento a sua própria saúde. Essa informação deveria ser frisada durante a formação, mas não são todos os profissionais que saem das universidades com essa consciência. Infelizmente, a maioria irá atentar para isso quando se deparar com o estresse, a dor, a fadiga e com os prejuízos organizacionais, como retrabalhos, acidentes e absenteísmo, lamenta a especialista.
O gerenciamento do estresse exige do cirurgião-dentista uma nova posição frente a profissão e a vida, por exemplo, definir-se claramente, uma vez que frequentemente é induzido a realizar mais do que deve e quer. O profissional precisa aprender a dizer não para algumas situações.
A cirurgiã-dentista Dayane Machado Ribeiro, que também é uma das autoras da obra “Estresse e Qualidade de Vida no Trabalho do Cirurgião-dentista – Aspectos Epidemiológicos e Clínicos”, dá algumas dicas de adoção de atitudes positivas para que o profissional de saúde bucal tenha qualidade de vida.
- Descanse com regularidade: uma breve pausa durante o dia ajuda aliviar a pressão e refrescar a mente.
- Planeje cada dia: liste o que é preciso fazer (em ordem de prioridade), estabelecendo metas realistas.
- Cuide da vida: desenvolva interesses fora da carreira e da vida familiar.
- Relaxe: essa medida alivia sinais mais comuns do distresse, como dores de cabeça e musculares ou insônia. Ioga e meditação são boas escolhas.
- Tire folga ou férias de verdade.
- Faça exercícios: atividade física relaxa a tensão, melhora a qualidade do sono, libera emoções represadas e esvazia a mente de preocupações.
- Seja realista: tente não se sobrecarregar.
- Visite o médico: busque ajuda sempre que necessário.
- Fale sobre os seus problemas: um sócio, um amigo ou um familiar podem ajudar a encontrar soluções para algumas de suas angústias.
- Evite muitas mudanças de uma só vez.