As gestantes fazem parte de um grupo de pacientes que requer cuidados específicos, especialmente em relação ao uso das soluções anestésicas locais e outros medicamentos de uso odontológico, devendo-se sempre lembrar que no seu atendimento existem dois indivíduos.
A mulher, durante o período de gestação, passa por uma série de mudanças físicas, que são destinadas a prepará-la para o parto e amamentação. Recentemente tem-se observado grande número de doenças pulpares inflamatórias, ocorrendo também na fase gestacional, não ligadas diretamente a esta fase, mas como consequência de um momento onde outros fatores se tornam prioritários, e os cuidados com a higiene oral são negligenciados, permitindo a evolução de cáries não tratadas e o posterior comprometimento pulpar.
O segundo trimestre gestacional é a melhor e mais segura época para a realização dos procedimentos odontológicos, pois a organogênese está completa, e o feto já está desenvolvido. Entretanto, frente aos casos de urgência odontológica, como nos casos de dor decorrente de pulpites, traumatismos, processos infecciosos, abscessos etc, o atendimento pode ser realizado em qualquer período, pois a dor e a ansiedade geradas podem ser mais prejudiciais à mãe e ao feto do que o próprio tratamento odontológico.
Neste caso, deve-se tomar algumas precauções, tais como:
- Evitar a posição horizontal, isso devido ao risco de pressionar a veia cava inferior, provocando uma queda de pressão arterial na paciente com possibilidade de síncope.
- Executar radiografias apenas quando estritamente necessário e sempre com avental de chumbo protetor, empregando filmes ultrarrápidos, que permitem um menor tempo de exposição
- O anestésico local deve ser aquele que proporciona a melhor anestesia à gestante, deve-se dar preferência às substâncias com poder anestésico, como a lidocaína e a mepivacaína, atentando também para a técnica anestésica apurada e quantidade da droga injetada.
- Evitar a prescrição de medicamentos com efeitos colaterais. Quando necessário, o Paracetamol 500mg é um bom analgésico para ser utilizado. Lembrando que o contato com o médico pré-natalista – para um acompanhamento mais seguro do caso – é de extrema importância.
Hoje em dia, embora o tratamento dentário durante a gravidez seja considerado benéfico, dentistas ainda hesitam em atender gestantes, por temerem processos judiciais e prejuízos ao feto, ou seu conhecimento do tratamento apropriado está defasado em relação às evidências atuais.
Não há motivo algum para adiar um tratamento de canal em uma paciente gestante, apenas devemos tomar todos os cuidados já mencionados, pois o alívio da dor será muito mais benéfico para a mamãe e para bebê.
Stella Ganassim Palhares
Cirurgiã-dentista. Especialista em Endodontia. Especialista em Dentística Estética. Diretora administrativa da DS Oral Odontologia Avançada.