Reimplante dental: vale a pena?

Reimplante dental: vale a pena?

A incidência de traumatismos dentários tem aumentado de forma significativa. A prática de esportes, as quedas, os acidentes de bicicleta ou automobilístico estão entre os fatores que colaboram para o aumento da incidência desses traumatismos.

A avulsão dental é a completa separação de um dente do seu alvéolo, ocorrendo o rompimento das fibras do ligamento periodontal, permanecendo uma parte delas aderida ao cemento do dente e a outra parte ligada ao osso alveolar.

O reimplante tem sido proposto como uma tentativa para reintegrar o elemento avulsionado a sua posição anatômica normal. Representa uma das condutas mais conservadoras em Odontologia, pois permite a preservação da função e da estética, protela a necessidade de trabalhos protéticos e reduz o impacto psicológico decorrente da perda imediata.

Os fatores que podem alterar o prognóstico do reimplante são: extensão do trauma, tempo de permanência extra-alveolar, meios de conservação, contaminação, maneira pela qual o dente é manipulado e condição do dente avulsionado. Esses fatores podem desencadear problemas como a inflamação periodontal, reabsorção radicular e anquilose alvéolo-dental, os quais interferem no sucesso dos reimplantes.

As reabsorções das raízes podem ser classificadas em: reabsorção de superfície, de substituição e inflamatória, podendo ser ativa, cessada ou reparada.  A reabsorção de superfície resulta de pequenas lesões da camada mais interna do ligamento periodontal e, possivelmente, também do cemento, o que provoca um ataque osteoclástico superficial na raiz.

A cicatrização acontece a partir do ligamento periodontal adjacente, por meio do qual a cavidade de reabsorção inicial está quase completamente reparada com o cemento. A reabsorção por substituição é causada pela necrose ou remoção do ligamento periodontal. A principal característica histológica dessa reabsorção são lacunas de reabsorção reparadas com osso. Esta reabsorção por substituição pode ser manifestada de duas maneiras: permanente, que reabsorve gradualmente a raiz inteira; ou transitória, na qual a anquilose, uma vez estabelecida, desaparece mais tarde. Radiograficamente, esse tipo de reabsorção pode ser observado dentro de três a quatro semanas após o reimplante. A reabsorção inflamatória é histologicamente caracterizada por lacunas de reabsorção, com células multinucleadas em tecido de granulação, podendo comprometer cemento e dentina. A reabsorção inflamatória pode progredir rapidamente, podendo levar a perda do elemento dentário dentro de meses. As primeiras evidências radiográficas podem ser observadas três semanas após o reimplante e clinicamente o dente apresenta extrusão e mobilidade.

A reabsorção inflamatória pode ser controlada com intervenção endodôntica adequada. O hidróxido de cálcio é o curativo de demora mais estudado em pesquisas de reimplante dental. Vários autores recomendam o seu uso até que a reabsorção inflamatória seja controlada e, posteriormente, que o canal radicular seja obturado com guta-percha. A associação de calcitonina com hidróxido de cálcio vem sendo preconizada pela capacidade de redução da atividade osteoclástica, diminuindo a velocidade de reabsorção.

O tratamento endodôntico deve ser realizado de duas a três semanas após o reimplante, com o objetivo de evitar a deterioração do ligamento periodontal, ocasionado pelos procedimentos relacionados ao tratamento.

O reimplante dentário é o único tratamento não protético que pode ser realizado frente a um caso de avulsão. Apesar do percentual de sucesso estar compreendido entre 4 e 50%, deverá ser realizado sempre, pois evita sequelas funcionais, estéticas e psicológicas ao paciente.

 


stella okStella Ganassim Palhares
Cirurgiã-dentista. Especialista em Endodontia. Especialista em Dentística Estética. Diretora administrativa da DS Oral Odontologia Avançada.

 

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