A exposição solar crônica pode, ao longo dos anos, não apenas causar danos à pele, mas também prejuízos ao lábio inferior, tornando a região labial alterada mais susceptível ao desenvolvimento de um câncer de lábio.
Os efeitos dos raios solares UVB possuem caráter cumulativo e manifestam-se como lesões na forma de manchas brancas e/ou vermelhas (leucoplasias e eritroplasias), atrofia labial, perda do limite do vermelhão do lábio (contorno labial), ressecamento, bem como por meio de pequenas feridas, na forma de erosões e úlceras. Instala-se um quadro de lesão precursora do câncer de lábio, a queilite actínica, a qual deve ser avaliada e diagnosticada pelo cirurgião-dentista Estomatologista.
Homens adultos, com idade superior a 50 anos, de pele branca e com hábitos associados à exposição solar, seja pelo seu estilo de vida ou por causas ocupacionais, são os pacientes com maior risco de apresentar tais alterações.
A literatura também demonstra a associação de algumas alterações genéticas, como o albinismo e o xeroderma pigmentoso com a manifestação da queilite actínica. Entretanto, a prevenção deve se iniciar desde a mais tenra idade, seja qual for a cor da pele.
Por outro lado, quem fuma deve ter atenção redobrada, já que a temperatura do cigarro é muito prejudicial à boca. A brasa da ponta do cigarro chega muito próximo a mil graus, o que faz com que tenhamos um fator irritante na mucosa labial. Além disso, o álcool, principalmente o contido nas bebidas destiladas, destrói a camada do tecido que protege o lábio.
É preciso que se incorpore o hábito de utilizar protetor solar labial com fator de proteção solar (FPS). Batons ou cremes apenas hidratantes, sem FPS, não protegem os lábios da ação carcinogênica do Sol (raios UVB), apenas lubrificam os lábios. Da mesma forma, a manteiga de cacau e a pasta d’água, popularmente conhecidas, funcionam somente como uma barreira física de curta duração.
O tratamento da queilite actínica varia de acordo com a gravidade da lesão, o que está estreitamente associada com o grau de alteração celular na região labial. Áreas que apresentem consistência endurecida e/ou ulceração devem ser biopsiadas, para se excluir o diagnóstico de câncer de lábio. Há casos em que basta o acompanhamento clínico rigoroso, porém, sendo diagnosticado o câncer de lábio, indica-se o tratamento cirúrgico, por meio da realização de vermelhonectomia. Tratamentos alternativos incluem a remoção da lesão com laser de alta potência, eletrodissecção, crioterapia, a terapia fotodinâmica, administração de 5-fluorouracil e aplicação tópica de imiquimode.
O paciente com queilite actínica apresenta mais do que o dobro de chance de desenvolver câncer de lábio. Nos casos em que o carcinoma de células escamosas de lábio já está estabelecido, histopatologicamente, é bem diferenciado. As metástases, quando ocorrem, são eventos tardios.
Em virtude da queilite actínica apresentar o desenvolvimento lento, destaca-se que o dentista Estomatologista é o profissional indicado para o diagnóstico precoce dessa patologia, por meio da realização de um criterioso exame clínico. Os pacientes devem ser rigorosamente acompanhados e orientados, a fim de evitar a progressão para a malignidade.
Rhayany Lindenblatt Ribeiro
Cirurgiã-dentista. Especialista em Estomatologia. Doutora e mestre em Patologia Bucal. Habilitada em Laserterapia. 1º Ten Dent Adjunto da Clínica de Semiologia da Odontoclínica Central do Exército.