Halitose em crianças e adolescentes

Halitose em crianças e adolescentes

O hálito fétido decorre da emanação de odorivetores, ou seja, substâncias de baixo peso molecular, voláteis e com odor ofensivo ao olfato humano, que se dispersam no ar, sensibilizando o epitélio olfativo. Não é considerada uma doença por si, mas sim uma condição anormal do hálito, patológica ou fisiológica, que precisa ser diagnosticada e tratada.

A causa principal está relacionada às condições de higiene na cavidade oral. É importante salientar que a halitose é uma causa de restrição social, podendo levar a constrangimentos profissionais e afetivos.

Genericamente, a halitose é classificada como primária ou secundária. A primária se refere à respiração exalada pelos pulmões, enquanto que halitose secundária se origina tanto nas vias aéreas superiores como na cavidade oral, resultante da decomposição de matéria orgânica a partir de restos de células epiteliais retidas na porção posterior do dorso da língua. Esta decomposição é facilitada pela precipitação de mucina, uma redução no fluxo salivar e/ou desequilíbrio de água, o ataque microbiano e alcalinização do ambiente oral, todos os quais favorecem o crescimento de bactérias proteolíticas e, consequentemente, resultam na produção de compostos voláteis de enxofre. A intensidade do mau hálito está associada com o nível de compostos voláteis de enxofre na cavidade oral.

A saliva desempenha funções essenciais, como a digestão enzimática, ação antimicrobiana, a regulação do pH, a proteção dos tecidos orais, lubrificação, assistência na deglutição, potencialização do sabor. A eliminação do bolo alimentar com pH ligeiramente ácido suprime o crescimento e proliferação de bactérias Gram-negativas e anaeróbias, dificultando a ativação das enzimas necessárias para a putrefação de aminoácidos, resultando em mau cheiro dos compostos que contêm enxofre reduzido. De acordo com a literatura, 50 a 60% da população sofre de halitose crônica, que pode ter consequências para a vida profissional e pessoal; 85% dos casos de halitose são de origem estomatognático.

Entre os 50% e 65% da população com halitose, 8% dos casos estão associados com problemas respiratórios, e 90% estão associados com os problemas orais. A halitose pode comprometer todas as faixas etárias e gêneros.

Em 2010, a Associação Brasileira de Halitose (ABHA) publicou os resultados de uma pesquisa, cujo objetivo foi avaliar a percepção dos pais, mães e/ou responsáveis a respeito da halitose em seus filhos.

A população estudada foi de crianças na faixa etária entre um e 12 anos. Por meio de um questionário objetivo, um total de 204 pais e/ou responsáveis participou estudo. Desta amostra, 53 eram habitantes da região Centro-Oeste, 75 da região Nordeste, 55 da região Sudeste e 21 da região Sul. Foi possível constatar que mais da metade dos pais (52%) relatou perceber alteração do hálito em seus filhos, enquanto que 48% nunca perceberam.

Quando perguntados sobre horário e/ou situação de ocorrência da alteração do hálito, 67% relataram sentir a halitose das crianças logo que elas acordam e 6% o dia todo. Dentre as possíveis causas, estão os problemas relacionados com as vias aéreas superiores. Pode-se verificar que 26% das crianças deste estudo têm crises de rinite alérgica, e 24% sofrem com sinusites e/ou amigdalites. A respiração bucal e o ronco e/ou sono agitados foram relatados em 28% das crianças. Mas o que muito chamou a atenção foi que 81% dos pais nunca procuraram ajuda profissional. O que é um evidente motivo de preocupação, porque a halitose infantil deve ser diagnosticada e tratada precocemente, já que quando manifestada pode indicar, desde uma má higienização bucal até a presença de outras doenças.

Em estudo realizado com 55 crianças entre três e 14 anos de idade, com idade média de 7,33, sendo 29 meninos (52,7%) e 26 meninas (47,3%), os resultados revelaram que 40% apresentava um padrão de respiração bucal e 60% respirava predominantemente por meio do nariz, havendo uma associação estatisticamente significativa entre a respiração oral e gênero masculino e alta ocorrência de halitose, comprovando associação estatisticamente significativa entre halitose e respiração bucal.

Entre maio e setembro de 2011, um trabalho com adolescentes foi realizado pela Associação Brasileira de Halitose. 254 jovens ou responsáveis foram pesquisados por meio de questionário direto, sendo 23% deles da região Centro-Oeste, 30% do Nordeste e 47% do Sudeste. Os resultados indicaram que 37% dos jovens já apresentaram alteração do hálito. 33% estavam em tratamento ortodôntico, sendo que 21% deles relataram apresentar halitose logo após o início do uso do aparelho. A escovação dentária duas vezes por dia foi percebida em 31% dos jovens, enquanto 61% não usam o foi dental. 63% relataram que a gengiva sangra ao escovar ou passar o fio dental e 52% não usam enxaguatório bucal, apesar de gostarem. Mais uma vez 98% dos jovens com alteração no hálito afirmaram que nunca procuraram ajuda profissional.

A correta higienização bucal deve ser orientada pelo profissional e sua equipe e realizada pelo paciente sob a supervisão dos pais e responsáveis, além do acompanhamento e controle pelos ASBs ou TSBs durante todo o tempo de tratamento odontológico/ortodôntico, com o objetivo de conscientizar, motivar e estimular a criança e o jovem para os cuidados com a saúde bucal. A halitose pode ocorrer em todas as idades, nos mais variados graus de complexidade. Apresenta etiologia multifatorial, ne¬cessitando de diagnóstico preciso e elaboração do plano de tratamento multiprofissional e interdisciplinar capaz de promover a melhoria na qualidade de vida familiar e social, além da prevenção de doenças.


helenice_biancalanaHelenice Biancalana
Cirurgiã-dentista. Especialista em Odontopediatria e em Ortopedia Funcional dos Maxilares. Mestre em Saúde da Criança e do Adolescente. Diretora do Departamento de Prevenção e Promoção de Saúde da Associação Paulista de Cirurgiões-Dentistas (APCD-Central). Diretora da Associação Paulista de Odontopediatria – APO.

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