Os lábios possuem uma superfície delicada, denominada semimucosa. A exposição aos fatores de risco específicos, de modo crônico, aumenta substancialmente a possibilidade do desenvolvimento de uma neoplasia nesta localização. Correspondem à parede anterior da cavidade oral, representando sua abertura externa.
Formados por estruturas cutânea e muscular, os lábios variam em tamanho, forma e espessura, de acordo com a raça, a idade e os fatores ambientais. Limitam-se com as regiões anatômicas nasal, mentoniana e geniana. Os lábios superior e inferior contêm as mesmas camadas estratigráficas: pele, camada subcutânea, muscular, submucosa e mucosa.
A tríade: exposição solar, tabagismo e etilismo é a grande responsável pela maioria dos casos de câncer labial, embora cada um destes fatores citados, isoladamente, também possa levar ao surgimento da neoplasia. Alguns autores se referem a esta patologia como o câncer dos fumadores de cachimbo. Os lábios femininos são menos acometidos. As explicações para a menor prevalência em mulheres são diversas, dentre elas o uso frequente de cosméticos e a menor exposição aos fatores agressivos.
O câncer labial corresponde a aproximadamente 15% de todas as neoplasias de cabeça e pescoço, e aproximadamente 25% de todos os tumores de cavidade oral. Apresenta maior incidência no lábio inferior (~4:1). Existe uma grande predominância no sexo masculino. Tal fato é explicado pela maioria dos autores por este grupo se expor mais aos fatores de risco para a patologia, embora exista um crescimento progressivo, ao longo dos anos, do acometimento no sexo feminino. A literatura registra que quando encontrado no lábio superior, existe uma predileção pelo sexo feminino. O câncer labial é raro em negros, e acomete preferencialmente indivíduos na faixa etária acima dos 40 anos.
Em relação ao aspecto macroscópico das lesões, a grande maioria dos tumores labiais desenvolve-se no vermelhão e com menos frequência nas comissuras. Existem três tipos principais de apresentações: verrucoso, exofítico e úlceroinfiltrativo, e a maioria é do tipo exofítico. O exame extraoral deve incluir palpação do pescoço, com análise minuciosa das estruturas cervicais, principalmente músculos e linfonodos.
As neoplasias do lábio superior drenam comumente para o grupo de linfonodos submandibulares, mas podem acometer os linfonodos parotídeos. A metástase linfática cervical ocorre em aproximadamente 10% dos casos. As metástases podem estar presentes no ato do diagnóstico em casos avançados, ou se manifestar nos primeiros anos após o diagnóstico e tratamento do tumor primário.
Sobre os aspectos histopatológicos, mais de dois terços dos tumores dos lábios são carcinomas epidermoides bem diferenciados. Os carcinomas basocelulares têm origem na face cutânea dos lábios, e comprometem por contiguidade o vermelhão e/ou a mucosa. No lábio superior é mais comum o carcinoma basocelular, e no inferior, o carcinoma epidermoide.
O diagnóstico é feito por meio de exame loco-regional macroscópico, confirmado por biópsia excisional ou incisional. O paciente deve ser encaminhado a um centro oncológico de referência, caso se confirme a neoplasia, para tratamento da patologia dentro de todos os princípios oncológicos. O prognóstico é considerado bom pela maioria dos autores, e a sobrevida em cinco anos é de 90%.
Aline Queiroz de Almeida
Cirurgiã-dentista graduada pela FORP-USP. Concluiu Residência no Hospital de Câncer de Barretos – Fundação Pio XII. Atende em clínica particular em Barretos e Bebedouro (SP).