Por: Vanessa Navarro
A projeção para o ano de 2050 é que a grande maioria da população terá entre 50 e 60 anos. Será que a Odontologia brasileira está preparada para o iminente crescimento da população idosa?
A velocidade do envelhecimento populacional no Brasil é significativamente maior do que a presenciada nas sociedades mais desenvolvidas no século passado. Essa transição nem sempre é acompanhada na mesma rapidez, pela mudança de paradigmas, conceitos, enfim.
Para a cirurgiã-dentista e Odontogeriatra Dra. Denise Tibério, a Odontologia brasileira está se preparando lentamente para o inevitável panorama. “A Odontogeriatria é uma especialidade nova, e, atualmente, somamos um time de aproximadamente 200 especialistas para todo o território brasileiro. Número pequeno, tendo em vista a peculiaridade de cada região do nosso país. Não existe regra no atendimento, pois não há um estereótipo de idoso”.
Hoje, de acordo com o atual contexto, existe a real necessidade de constante atualização no atendimento odontológico de idosos, que normalmente trazem consigo doenças que acompanham a sua faixa etária, entre elas Alzheimer, Parkinson e Hipertensão.
De acordo com a também especialista em Geriatria e Gerontologia, a saúde é vista como um bem-estar físico psicossocial. Ela está inserida em um contexto bem mais amplo. “O envelhecer trouxe consigo a instalação de doenças não transmissíveis, ou seja, elas se instalam e levam à comorbidade, muitas vezes comprometendo a qualidade de vida do envelhecente”, explica. “O mundo passa por inevitáveis mudanças, e o conhecimento também muda. É preciso buscar a constante reciclagem e atualização, pois o cirurgião-dentista, em seus procedimentos clínicos, utiliza anestésicos, antibióticos e anti-inflamatórios que podem interagir, às vezes de maneira negativa, com as medicações prescritas para doenças crônicas”, completa a autora da obra “Alzheimer na Clínica Odontológica”, já lançada no Canadá, durante o Congress of Geriatrics and Gerontology, e que deve estar no mercado brasileiro no próximo mês.
Cuidado multidisciplinar e humanizado
Os idosos precisam de cuidados diferenciados, que levem em conta seu histórico médico, com a colaboração de profissionais de diversas áreas da saúde.
O bom relacionamento entre todos os profissionais envolvidos no cuidado do idoso é o grande desafio e o ponto crucial para oferecer um atendimento de qualidade e eficaz ao paciente.
“Atuar em equipe multiprofissional é um grande desafio, mas estamos aprendendo. Cada idade possui suas características, e o conhecimento da Gerontologia é fundamental para o atendimento desse paciente. História médica e familiar, situação socioeconômica, estado cognitivo, avaliação da existência de depressão com exame específico são partes da anamnese para um prognóstico de sucesso”, defende a cirurgiã-dentista.
A classe médica e odontológica deve compreender que o envelhecimento é o último ciclo vital. Os medos, as incertezas, as angústias, a perda de autonomia e da capacidade funcional, a solidão, a discriminação, a perda de entes queridos, a ausência de confiança são fatores que fazem parte desse ciclo.
Dra. Denise esclarece que é preciso ter em mente que qualquer profissional, antes de ser profissional, tem que ser gente, e gente envelhece. “Afinal, como você gostaria de ser tratado quando atingir a velhice?”, questiona.
O conhecimento técnico-científico sempre será importante para que os profissionais atuem com segurança. “A habilidade e destreza tão bem desenvolvidas nas cadeiras acadêmicas tornam os profissionais competentes, mas promover a dignidade de um idoso, por meio de uma abordagem diferenciada, acontece somente quando o profissional se coloca no lugar do outro, transbordando amor pelo ser humano”, finaliza a especialista.