A prótese ocular é uma das mais antigas modalidades de reabilitações faciais. O homem sempre buscou um modo de dissimular mutilações.
Há relatos que na antiga China, em 2000 a.C., as estátuas tinham, no lugar dos olhos, jade imitando o bulbo ocular. Os romanos e os gregos enfeitavam suas estátuas com olhos artificiais feitos com pedras preciosas e ouro.
Quando se fala de olhos artificiais, os egípcios foram pioneiros, utilizando-os em estátuas e depois em múmias, como a de Tutancâmon e, posteriormente, na reabilitação do homem.
A história reporta que em 1578 foi introduzida a prótese de vidro, desenvolvida por mestres artesãos assopradores de cristal, chegando à industrialização em Veneza e, posteriormente, França e Alemanha.
A Alemanha deteve, por longo período, o domínio na fabricação dos olhos artificiais fabricados a partir do vidro. Com a chegada da Segunda Guerra Mundial, as facilidades de importação destas próteses ficaram escassas até o embargo total. Os soldados e os civis aliados precisavam ser reabilitados, devido às mutilações causadas pela guerra. Iniciou-se então a busca por outros materiais alternativos, como a resina acrílica, que era o material de laboratório utilizado na época na confecção de prótese dental.
Como etiologia, temos que as perdas oculares podem ser congênitas ou adquiridas e subdividem-se em patológicas ou traumáticas acidentais ou intencionais.
Podemos citar – como congênita – a microftalmia, que acomete crianças, que podem iniciar a reabilitação ocular já aos três meses de idade, impedindo o comprometimento do crescimento da hemiface. As próteses oculares indicadas nestes casos são denominadas em concha ou em calota.
Como patológica, podemos citar as doenças corneanas, como o glaucoma, catarata, tracoma e a panoftalmia. Os tumores oftálmicos que levam a perda da visão são o melanoma, o glioma, o neuroblastoma e o retinoblastoma, um agressivo tumor maligno caracterizado por um forte brilho no globo ocular, mais frequente em crianças de dois a cinco anos de idade.
As perdas traumáticas possuem como causa principal: acidentes automobilísticos e de motocicletas, violência urbana por arma de fogo, arma branca, acidentes domésticos e no trabalho.
Como modalidade de próteses oculares, temos oca, leve, de recobrimento, orotocavitária e a individualizada. Cada uma com indicação específica e dentro das diretrizes que norteiam a confecção de uma prótese ocular.
Funções da prótese ocular
- A prótese ocular é responsável por prevenir o colapso e a deformidade palpebral, dando sustentação e tonicidade muscular, bem como sua atresia por falta de função.
- Proteger a sensível cavidade anoftálmica contra agressões por poeira, fumaça, frio e demais agentes.
- Evitar a secura da conjuntiva.
- Restaurar a direção do fluxo lacrimal ao seu ducto fisiológico – evitando o empastamento dos cílios.
- Prevenir o acúmulo de secreção lacrimal na cavidade, evitando as alterações assimétricas que progressivamente se instalam e a epífora (lacrimejamento incontido).
- Restaurar o contorno facial.
A prótese ocular é confeccionada de modo individualizado e procura minimizar sua presença por meio de técnicas de confecção esmerada, que auxiliam na dissimulação da perda ocular. Como exemplo, podemos citar a íris protética, que é obtida por meio de pintura em calota de íris ou em uma técnica já patenteada por equipe brasileira que é a íris digital.
Cabe sempre lembrar que o profissional habilitado para a confecção de próteses oculares é o cirurgião-dentista especialista em Prótese Bucomaxilofacial.
Reinaldo Brito e Dias
Cirurgião-dentista. Chefe e Professor Titular do Departamento de Cirurgia, Prótese e Traumatologia Maxilofaciais da FOUSP. Professor Responsável pela Disciplina de Prótese Bucomaxilofacial da FOUSP. Professor Responsável pela Área de Concentração de Prótese Bucomaxilofacial do Programa de Pós-Graduação da FOUSP. Presidente da Câmara Técnica de Prótese Bucomaxilofacial do CROSP. Presidente do Conselho Curador da FFO Fundecto. Membro da Academy of Dentistry International.