O sono é um estado fisiológico cíclico, que é caracterizado no ser humano por cinco estágios fundamentais. Esses estágios se diferenciam de acordo com o padrão do eletroencefalograma (EEG) e com a presença ou ausência de movimentos oculares rápidos (rapid eye movements: REM), além de mudanças em diversas outras variáveis fisiológicas, como o tono muscular e o padrão cardiorrespiratório.
O EEG mostra alentecimento progressivo com o aprofundamento do sono sem movimentos oculares rápidos (Não-REM) e atividade rápida dominante de baixa voltagem, semelhante à da vigília, durante o sono REM. Um ciclo noturno previsível de 90 minutos marca a variação entre os quatro estágios do sono Não-REM para o sono REM, descrevendo uma arquitetura característica, com proporções definidas de cada estágio, que variam segundo a faixa etária.
Um biorritmo neuroquímico acompanha as variações circadianas do chamado ciclo vigília-sono, com mudanças específicas da temperatura corporal e da secreção de diversos hormônios e neurotransmissores, relacionados aos diferentes estágios do sono e da vigília. O conhecimento dos aspectos fisiológicos e das variações patológicas deste ciclo complexo deu margem ao desenvolvimento da Medicina do Sono, e compõe as bases do estudo dos distúrbios do sono na prática clínica.
Para alertar de que a privação do sono, provocada por vários problemas, interfere na qualidade de vida, a Organização Mundial da Saúde (OMS) instituiu um dia no ano como o Dia Mundial do Sono. Em 2016, a data foi lembrada pela Associação Brasileira de Odontologia do Sono com várias atividades realizadas durante a Semana do Sono, que aconteceu entre os dias 14 e 19 de março, em todo ao país.
Um estudo realizado pela Universidade de Queensland, na Austrália, acompanhou a qualidade do sono infantil de cerca de 2.900 crianças de 0 a cinco anos e, depois, voltaram a analisar o comportamento delas dois anos depois. A conclusão foi a de que a maior parte das crianças que tinha uma rotina de descanso desajustada apresentava riscos mais significativos de desenvolver problemas relacionados ao déficit de atenção e às dificuldades de aprendizado na escola.
Recomenda-se que os pais façam uma higiene do sono, que inclui ajustar a hora de ir para a cama, que deve ser sempre a mesma, diminuir o uso de telas, como tablets, smartphones e televisores, criar rotinas consistentes antes de deitar e construir estratégias para acalmar, como ler ou ouvir uma música relaxante.
O bruxismo é considerado uma atividade repetitiva dos músculos mandibulares sob o comando do Sistema Nervoso Central, que pode ocorrer tanto em vigília (desperto) quanto dormindo (bruxismo do sono), sendo mais comum este último.
Dentre os fatores etiológicos do bruxismo do sono, o psicológico vem sendo apontado como preponderante. Ressalta-se, ainda, que os aspectos psicológicos dos filhos estão altamente correlacionados com aspectos psicológicos – como estresse e depressão – de mães ou cuidadores primários. A obstrução das vias aéreas superiores é um fator que dificulta a estabilidade de um sono repousante e tranquilo, assim como a ingestão de líquidos e alimentos estimulantes que possam despertar a criança no momento do sono.
Para favorecer um “indução”, recomenda-se criar um ambiente favorável com uma rotina consistente, ou seja, no mesmo horário e com as mesmas ações.
A alimentação pode ajudar ou atrapalhar. Alimentos com cafeína devem ser evitados por no mínimo seis horas antes de ir para a cama. Alimentos ricos em aminoácido triptofano podem ajudar, se ingeridos cerca de uma hora antes de ir para a cama, já que este aminoácido é precursor de substâncias indutoras do sono como a serotonina e melatonina.
Esportes organizados são muito bem-vindos, mas esse tempo pode também ser alcançado em múltiplas sessões de curta duração.
A atenção da família sobre sinais de comportamento pode identificar possíveis alterações funcionais e comportamentais, que possibilitarão durante a anamnese clínica identificar causas e condução terapêutica.
Helenice Biancalana
Cirurgiã-dentista. Especialista em Odontopediatria e em Ortopedia Funcional dos Maxilares. Mestre em Saúde da Criança e do Adolescente. Diretora do Departamento de Prevenção e Promoção de Saúde da Associação Paulista de Cirurgiões-Dentistas (APCD-Central). Diretora da Associação Paulista de Odontopediatria – APO.