Muito se discute como controlar as infecções relacionadas à assistência à saúde. É preciso lembrar que, como profissionais de saúde, podemos nos deparar com qualquer tipo de doença.
Com a facilidade de deslocamentos pelo globo não há mais barreiras para o surgimento de surtos, epidemias e pandemias.
Nos últimos anos, vivenciamos a pandemia da gripe A, o ressurgimento de doenças tidas como erradicadas, novas doenças e muitos outros casos, que antes ficavam restritos a determinadas regiões. Hoje, toda a humanidade está susceptível, e diante deste cenário, o investimento em ações preventivas se torna imprescindível.
Quando pensamos na cadeia de transmissão das infecções relacionadas à assistência à saúde, deparamo-nos com o fato de que uma ação simples pode reduzir consideravelmente a infecção nesses serviços. E vem à tona a questão: por que os profissionais de saúde não acreditam, desconfiam e resistem a esta medida?
Hoje é amplamente reconhecida que a higienização das mãos é uma medida eficiente e simples para reduzir as infecções nos serviços de saúde. Mas, justamente por ser simples, é que pode ser a causa da resistência dos profissionais de saúde na adesão à prática da higiene das mãos.
Recentemente, o termo “lavagem das mãos” foi substituído por “higienização das mãos”, englobando a higienização simples, a higienização antisséptica, a fricção antisséptica e a antissepsia cirúrgica das mãos.
Quando comparamos o ambiente hospitalar com o ambiente odontológico temos a predisposição de acreditar que o segundo oferece menor risco de infecções. É certo que os procedimentos realizados, o tipo de infecção, a condição imunológica do paciente e o ambiente podem diferir, mas a potencialidade de ocorrer transmissão cruzada de microrganismos patogênicos é real.
Sabemos que essa transmissão pode acontecer por meio das mãos de forma direta, ou seja, mãos contaminadas tocando diretamente o paciente, ou de forma indireta, quando as mãos são contaminadas ao tocar uma superfície ou objeto e, posteriormente tocam o paciente.
Na prática odontológica, a maioria dos procedimentos é realizada com o uso de luvas, o que pode inferir que o risco de transmissão de microrganismos por meio do contato das mãos é menor, levando o profissional a negligenciar a higiene das mãos, antes e depois de usar luvas.
Pesquisadores estudaram a prevalência de perfurações em luva de látex descartável durante a rotina do tratamento dental. Os resultados mostraram que o tempo de uso é significante para a manutenção da integridade do vestuário. Para manter as condições de barreira, as luvas não devem ser usadas por tempo superior a duas horas. Destacaram, também, que, durante 20 minutos, por uma única perfuração, podem passar aproximadamente 19 mil bactérias. Guandalini relata que, em consequência do longo tempo de permanência em contato com a umidade, as luvas tornam-se uma membrana semipermeável, possibilitando a passagem de microrganismos para o lado interno, facilitando a contaminação do profissional.
Esses e outros estudos apontam que as luvas são barreiras, mas não infalíveis. Portanto, é essencial e obrigatório que as mãos sejam corretamente higienizadas, imediatamente, antes e depois de usar luvas.
É importante ressaltar que, para realizar uma higiene das mãos de forma eficiente é necessário ter um local adequado, limpo para realizar a ação. É preciso escolher um sabonete que seja agradável, não cause irritação e seja apropriado ao propósito ao qual se destina. O papel toalha deve ser de boa qualidade, de boa absorção e não deixar resíduos. A técnica de higienização das mãos e o tempo de duração da ação são fatores imprescindíveis para a qualidade final do processo.
Podem ser usados sabonetes comuns para higienização simples das mãos. Produtos contendo antissépticos que exercem efeito residual na pele das mãos podem ser indicados nas situações em que há necessidade de redução prolongada da microbiota.
Produtos alcoólicos para fricção antisséptica das mãos são comprovadamente eficazes na redução dos microrganismos das mãos e esta prática é muito estimulada nos hospitais para controle de infecção hospitalar. O único problema na adoção desse método, no caso da Odontologia, é no momento da retirada das luvas. Após um tempo de uso, as mãos transpiram, e se as luvas utilizadas contêm talco, a utilização do produto alcoólico após a remoção das mesmas não tem boa aceitação pelos profissionais. Por esse motivo, é recomendável o uso de luvas sem talco.
Quando devemos realizar a higiene de mãos?
- Antes e após ir ao banheiro.
- Antes e depois das refeições.
- Antes de preparar alimentos.
- Antes e após contato com paciente.
- Antes e após o uso de luvas.
- Quando estiverem visivelmente sujas ou contaminadas com sangue e outros fluidos corporais.
- Ao iniciar e terminar o turno de trabalho.
Dependendo do objetivo ao qual se destinam, as técnicas de higienização das mãos podem ser divididas em: Higienização simples, Higienização antisséptica, Fricção de antisséptico e Antissepsia cirúrgica ou preparo pré-operatório.
Mais uma vez, ressaltamos que a eficácia da higienização das mãos depende da duração e da técnica empregada. Antes de iniciar qualquer uma dessas técnicas, é necessário retirar anéis, pulseiras e relógios, pois tais objetos podem acumular microrganismos.
Higienização simples: remove os microrganismos que colonizam as camadas superficiais da pele, assim como o suor, a oleosidade e as células mortas, retirando a sujidade propícia à permanência e à proliferação de microrganismos.
A higienização simples das mãos deve ter duração de 40 a 60 segundos.
Higienização antisséptica: promove a remoção de sujidades e de microrganismos, reduzindo a carga microbiana das mãos, com auxílio de um antisséptico.
A higienização antisséptica das mãos deve ter duração de 40 a 60 segundos.
Fricção das mãos com antisséptico (preparações alcoólicas): reduz a carga microbiana das mãos (não há remoção de sujidades). A utilização de gel alcoólico – preferencialmente a 70% – ou de solução alcoólica a 70% com 1%-3% de glicerina pode substituir a higienização com água e sabonete quando as mãos não estiverem visivelmente sujas.
A fricção das mãos com antisséptico deve ter duração de 20 a 30 segundos.
Antissepsia cirúrgica ou preparo pré-operatório das mãos: a antissepsia cirúrgica das mãos constitui uma medida importante, entre outras, para a prevenção da infecção de sítio cirúrgico. Elimina a microbiota transitória da pele e reduz a microbiota residente, além de proporcionar efeito residual na pele do profissional.
As escovas utilizadas no preparo cirúrgico das mãos devem ser descartáveis e de cerdas macias, impregnadas ou não com antisséptico e de uso exclusivo em leito ungueal, subungueal e espaços interdigitais.
A antissepsia cirúrgica ou preparo pré-operatório das mãos deve durar de três a cinco minutos para a primeira cirurgia, e de dois a três minutos para as cirurgias subsequentes.
Para conhecer detalhadamente as técnicas de higienização das mãos, clique aqui.
Referências:
- Bezerra, S.R.S.; Pinheiro, J.T. Avaliação da integridade das luvas de procedimentos utilizadas na clínica endodôntica. R. Cons. Reg. Odontol. Pernamb., Recife, v.2, n.2, p.95-101, out. 1999.
- Guandalini, S.L. Biossegurança. JBC: J. Bras. Clin. Odontol. Integrada, Curitiba, ano 1, n.1, p.9-11, jan./fev. 1997.
- Segurança do Paciente em Serviços de Saúde: Higienização das Mãos. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Brasília: Anvisa, 2009. 105p.
Yara Yatiyo Yassuda é cirurgiã-dentista. Mestre em Ciências. Técnica da Divisão de Infecção Hospitalar – Centro de Vigilância Epidemiológica da Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo. Membro da coordenação do projeto estadual “Mãos Limpas são Mãos mais Seguras”, de implantação e acompanhamento da estratégia multimodal da Organização Mundial da Saúde.