Inicialmente, desejo as boas-vindas ao portal Local Odonto. É um prazer escrever sobre Odontogeriatria e compartilhar com vocês, meus colegas, conhecimentos sobre a especialidade.
Para começar, eis alguns dados da Organização Mundial da Saúde (OMS): são considerados idosos, para o Brasil e países em desenvolvimento, pessoas com idade superior a 60 anos, enquanto o IBGE considera idoso a partir de 65 anos.
A população acima de 65 anos era de 12,6% em 2012 e, no ano de 2014, esta faixa atingia 13%, representando um total de 26,1 milhões de pessoas, com previsão de 35 milhões em 2030.
Uma pergunta básica: seu consultório está preparado para atender essa nova demanda de pacientes? Eles já não necessitam apenas de próteses totais. Com a melhora da saúde bucal, cuidados com a própria aparência e com a nova inserção na sociedade, estes pacientes apresentam mais elementos dentários em sua boca, com os mesmos necessitando de cuidados.
Estes pacientes apresentam uma Odontologia diferente da contemporânea, próteses com materiais atualmente desconhecidos aos “jovens dentistas”, restaurações imensas com materiais restauradores, como amálgama, extensões preventivas, classes de black misturadas a restaurações de cobre-alumínio com remendos de resinas compostas, ouro, prata-estanho e por aí vai… Se fosse retirada uma restauração destas você conseguiria restaurar novamente o elemento dentário? Seria capaz de indicar a substituição da mesma ou sua preservação?
E quanto a saúde da pessoa? Você saberia avaliá-la? Sabe que acima dos 60 anos o paciente geriátrico possui, pelo menos, três comorbidades? Quais são suas manifestações bucais? Saiba que um dos maiores problemas que nosso paciente se refere é a sua “boca seca”, com todos os seus sinais e sintomas, são geralmente causados pela polifarmácia que esta pessoa utiliza?
Sabe avaliar as perdas funcionais e suas causas? Lembra-se da Anatomia e, principalmente, de como ela se transforma com a idade? As limitações que o paciente idoso apresenta? Quando da indicação de um fármaco, como ele irá funcionar? Como será a absorção e eliminação dele? Se existe algum outro fármaco utilizado que virá potencializar sua ação? Se vai produzir algum antagonismo? Quais são as características celulares desta pessoa?
É uma especialidade em que as disciplinas básicas, tão desprezadas em currículos atuais de nossas escolas, apresenta-se com maior intensidade. Temos que voltar a estudar novamente: Anatomia, Fisiologia, Patologia, Histologia, e ter em mente que ser velho é uma coisa nova para todos nós. Não sabemos ao certo o que a idade produz em nossos organismos, quais são as reações e, principalmente, quais são as perspectivas futuras. Como será a reação de nosso paciente a novas técnicas restauradoras? Como serão as “novas” medidas profiláticas?
Estamos, sinceramente, preparados para esta nova realidade em nossos consultórios?
E quanto aos desgastes funcionais que ele apresenta, quais os cuidados que devemos tomar em nossas instalações? Elas estão adequadas? Não colocamos barreiras demais em nosso consultório, cadeiras, degraus, vasos, portas com uma pequena abertura? Iluminação muito forte ou som muito baixo ou alto? Bem, isso já é um outro aspecto que fica para uma próxima coluna.
Um grande abraço e vida longa ao Local Odonto.
Augusto Roque Neto
Cirurgião-dentista. Especialista em Dentística Restauradora. Mestre em Clínicas Odontológicas. Professor Adjunto do Curso de Odontologia Faculdade de Saúde, Universidade Metodista de São Paulo.