Vou falar com você de coração para coração, afinal, estamos comemorando o nosso dia.
A comemoração não se deve apenas ao fato de que, nesse dia, foi assinado o decreto lei que criou o primeiro curso de Odontologia no Brasil, mas também porque somos ranqueadas como uma das melhores do mundo, com destaque e reconhecimento internacionais. Portanto, há que se louvar o esmero e empenho, que cada um dos cerca de 270 mil cirurgiões-dentistas brasileiros tem feito para promover saúde com qualidade e de maneira integral.
Mas, se por um lado temos todo esse sucesso e projeção, por outro, também temos tido momentos em que a angústia do exercício profissional, isolado entre as quatro paredes de nosso consultório, somado a outras inquietações, tem nos levado a pensar no amanhã e em sobre como será o nosso futuro.
Temos em nossa bagagem vários pacotes com expectativas. Os que recebemos de nós mesmos e também aqueles que chegam ofertados pelas pessoas com quem nos relacionamos. Além disso, ainda temos as cobranças que nos fazemos e as que recebemos. Extenuante!
Os pacotes que recebemos, às vezes, levam-nos a buscar um caminho dissonante dos nossos desejos mais íntimos, gerando um descompasso entre emoção e realidade, que nos desalinha em relação ao nosso eixo interno.
Construímos estradas sem entender para onde elas nos levam. Mas somos os viajantes responsáveis por escolher o caminho. Há que se repensar a rota.
Cada ser humano é único, formado por um conjunto de padrões, crenças e valores, e que necessita de experiências íntimas e particulares, imprescindíveis para o repleto desenvolvimento. Ter noção e controle sobre este processo é muito difícil, mas não impossível.
Ampliando o raciocínio, falemos de Hipócrates, que nos deixou como legado conceitos magníficos, entre eles o de que o homem tem dentro de si o poder do adoecimento e que “tuas forças naturais, as que estão dentro de ti, serão as que vão curar tuas doenças”.
À medida que vivo mais e mais, convenço-me de que o pensamento hipocrático é uma verdade absoluta, e que nossos faróis devem estar direcionados para o que há de vir a ser, deixando vivo o contato com a nossa essência, que deve comandar os passos no caminho que queremos trilhar. Haveremos de colher maçãs, se semearmos pêssegos?
Em qual momento da vida rompe-se o lacre que sela a lealdade que juramos diante de nosso mentor no momento da criação? Quando é que deixamos escapar esse pedaço de nós mesmos por entre os dedos? E vem a pergunta: “e agora”?
Assuma o comando do seu leme. Diga sim apenas à voz que vem de dentro de você e determine os critérios que devem reger a sua vida e suas escolhas.
Devemos acreditar no porvir e no que há por vir, entendendo que as relações humanas são de extrema importância nesse processo da busca de realizações pessoais e coletivas.
Enquanto escrevia, imaginei como seria se nos dispuséssemos a, no dia 25 de outubro, sair de nossos locais de trabalho, para de mãos dadas e juntos darmos um abraço solidário em nosso país.
Precisamos transpor as paredes de nossa casa, do consultório, dos hospitais onde atuamos, das universidades onde lecionamos, dos órgãos públicos, governamentais e das empresas onde prestamos serviço. Precisamos nos dar as mãos. Precisamos olhar-nos olhos nos olhos e perceber a humanidade que habita cada um de nós. Necessitamos humanizar nossas relações, entre nós e com o mundo.
Talvez o medo desaparecesse e desse lugar a uma sensação de aconchego e amor, uma sensação de êxtase e plenitude. Não estaríamos mais sozinhos! As paredes seriam quase que virtuais. Nada temeríamos, porque saberíamos que temos uns aos outros.
Neste dia 25 de outubro, eu vou sair de casa. Vou procurar meus pares, tantos quantos eu puder, e vou abraçá-los, dizer o quanto são importantes no processo e humanizar essa relação, que, por vezes, é tão distante, talvez por culpa do tempo que nos rouba a oportunidade, pelo isolamento imposto pelo próprio exercício profissional ou até pela desesperança em dias melhores.
Dias melhores? Esses hão de vir! Porque enquanto houver vida há esperança! Sempre haverá o tempo e o momento em que um sim ou um não poderão fazer toda a diferença na sua, na minha e na nossa vida.
Basta querer e acreditar! Você está preparado?
Quanto aos pacotes, coloque cada um deles no devido lugar, respeitando a hierarquia de sua importância, com a certeza de que esta ação será modificadora em sua vida.
Querido amigo, neste dia, quero dizer que acredito em você, na sua capacidade de amar e de transformar qualquer situação.
Você vem comigo? Não perca de vista que é no decorrer do tempo que as coisas acontecem e que somos o agente e construtor de nossa história. O percurso é muito mais rico do que o destino em si.
Você pede que ela te espere, mas a vida urge.
Juntos somos fortes e temos poder de realização.
Feliz dia do cirurgião-dentista!
Maria Lucia Zarvos Varellis é cirurgiã-dentista. Especialista em Odontologia para Pacientes com Necessidades Especiais. Conselheira do Conselho Regional de Odontologia de São Paulo (CROSP). Autora da obra “O Paciente com Necessidades Especiais na Odontologia”, Editora Santos.