Dados do Instituto Nacional do Câncer (INCA) preveem 600 mil novos casos de câncer no Brasil, no período entre 2016 e 2017. Além do câncer de pele não-melanoma, que sozinho responde por 180 mil novos casos, os mais frequentes são o câncer de próstata nos homens (61 mil) e o câncer de mama nas mulheres (58 mil). Mas também há grande incidência de câncer de pulmão, intestino, estômago, colo do útero e cavidade oral.
O problema ganha novas proporções quando o tratamento da doença principal acaba afetando a boca (gengiva e dentes). Daí a importância de o paciente contar com acompanhamento regular de um cirurgião-dentista.
De acordo com Arnaldo Gaspar de Oliveira Junior, professor da Escola de Aperfeiçoamento Profissional da APCD (Associação Paulista de Cirurgiões-Dentistas), tanto a radioterapia utilizada para tratar câncer de cabeça e pescoço, quanto qualquer tipo de quimioterapia podem provocar complicações orais e comprometer ainda mais a qualidade de vida do paciente. “Há pessoas que são tão suscetíveis a esse tipo de complicação que têm de reduzir as doses do tratamento, ou ainda torná-lo mais espaçado para que possam aguentar e ainda evitar quadros de infecções sistêmicas”.
O especialista afirma que cada paciente, dependendo da sua resposta ao tratamento e do tipo e severidade da doença que enfrenta, responde de forma muito particular às terapias empregadas. “A quimioterapia pode interferir na função da medula óssea e comprometer a formação dos glóbulos brancos, vermelhos e plaquetas. Além disso, alguns tratamentos são altamente tóxicos para o processo digestivo – que começa invariavelmente na boca. Entre os desdobramentos mais comuns, temos a mucosite. Trata-se de uma inflamação da membrana que reveste a boca e a garganta, onde podem surgir úlceras bastante dolorosas. Esse tipo de desdobramento do tratamento do câncer ocorre em quatro entre 10 pessoas”.
Gaspar diz que o tratamento da mucosite é feito com anestésicos locais, analgésicos e enxaguatórios. O paciente deve tentar manter a higiene oral regularmente, mas costuma ser aconselhado a fazer bochechos com bicarbonato de sódio algumas vezes ao dia e a preferir alimentos que exijam pouca mastigação durante as fases mais agudas. “Uma dica interessante é recorrer à crioterapia durante as sessões de quimioterapia. Ou seja, o paciente permanece com uma lasca de gelo dentro da boca o máximo possível – antes e durante o tratamento. Sorvetes são bem-vindos, desde que não sejam ácidos”.
Outras complicações à saúde oral do paciente com câncer incluem xerostomia, alterações no paladar, dificuldade de mastigação e de deglutição, dificuldade de falar, déficit nutricional decorrente da má alimentação, sangramentos e gengivite, perda de elasticidade dos músculos mastigatórios, entre outros. “Além dos pacientes que recebem radioterapia e quimioterapia, 80% daqueles que passam por transplantes de órgãos também enfrentam complicações orais de baixo e alto risco. Por isso, muitas vezes o cirurgião-dentista elabora um pré-tratamento para ser realizado antes de o paciente se tratar do câncer. Neste caso, o especialista realiza uma profilaxia, que inclui eliminar focos de infecções na boca, tratar lesões de cárie e qualquer outro desconforto que possa se avolumar na fase em que o paciente estiver mais frágil. Esse tipo de conduta reduz bastante a incidência de problemas orais e ainda melhora a qualidade de vida do paciente”, afirma Gaspar.
Fonte: APCD