Causada por bacteriemia transitória, a endocardite bacteriana é uma doença sistêmica que afeta as válvulas cardíacas. Seu conhecimento para a Odontologia é de extrema importância, pois a cavidade bucal abriga uma grande variedade de espécies de microrganismos, alguns deles causadores de bacteriemia.
Procedimentos odontológicos são responsáveis por aproximadamente 40% das causas de endocardite bacteriana.
Algumas intervenções odontológicas são de risco para uma bacteriemia transitória, e entre elas está o procedimento endodôntico. As endotoxinas bacterianas presentes nos canais infectados estão associadas com a bacteriemia, e já foi confirmada a presença de bactérias provenientes da polpa infectada na circulação sanguínea, possibilitando assim, o desencadeamento de complicações sistêmicas.
A profilaxia antibiótica é recomendada em Endodontia também nos casos com maior risco de a instrumentação ultrapassar o forame, nas reabsorções apicais, nas cirurgias paraendodônticas e nos casos necessidade da anestesia intraligamentar.
Diversas sociedades científicas recomendam a administração de antibióticos antes de intervenções invasoras, na tentativa de minimizar ou eliminar a chance de provocar uma bacteriemia transitória.
As recomendações mais utilizadas são as da American Heart Association (AHA), que estabeleceu que seja prudente administrar, antes de procedimentos odontológicos invasivos, profilaxia com antibióticos nos pacientes com endocardite bacteriana prévia ou com próteses de válvulas cardíacas.
Com base nas atuais diretrizes da American Heart Association (AHA), as condições cardíacas de alto e médio risco para a endocardite bacteriana são:
- Portador de valva cardíaca protética ou material protético usado para reparo da valva cardíaca.
- Portador de doença cardíaca congênita (DCC).
- Paciente com história prévia de endocardite infecciosa
- Valvopatia adquirida em paciente transplantado cardíaco.
- Prolapso da valva mitral com insuficiência e/ou espessamento, ou displasia valvular.
- Cardiomiopatia hipertrófica.
As manifestações clínicas da endocardite bacteriana podem ser cardíacas, pulmonares, cutâneas, oftalmológicas, vasculares e abdominais. Os pacientes apresentam como quadro clínico sugestivo: febre, aparecimento de sopro cardíaco inexistente ou alteração de sopro pré-existente, anemia, esplenomegalia; petéquias na pele, na conjuntiva, na mucosa e vasculite
Com o objetivo de minimizar a possibilidade de procedimentos bucais causarem bacteriemia em pacientes de risco, a American Heart Association (AHA) estabeleceu critérios como posologia, tipo de antibiótico, e em quais pacientes deve ser prescrita a profilaxia antibiótica. Existe um importante limite entre prevenir que bactérias passem para a corrente sanguínea, e também não contribuir para a resistência bacteriana, causada pelo uso indiscriminado de antibióticos.
Segue, no quadro abaixo, o protocolo de profilaxia para prevenção de endocardite bacteriana em procedimentos odontológicos.
Assim como é importante prevenir a endocardite bacteriana, também é importante para o cirurgião-dentista saber qual o grau de contaminação que sua intervenção causará, além de se basear em uma boa anamnese, para conhecer as condições cardíacas do paciente, e se ele se enquadra ou não nos pacientes de alto e médio risco para desenvolver endocardite.
Referência bibliográfica
- Wilson W, Taubert KA, Gewitz M, Lockhart PB, Baddour LM et al. Prevention of infective endocarditis: guidelines from the American Heart Association: a guideline from the American Heart Association Rheumatic Fever, Endocarditis, and Kawasaki Disease Committee, Council on Cardiovascular Disease in the Young, and the Council on Clinical Cardiology, Council on Cardiovascular Surgery and Anesthesia, and the Quality of Care and Outcomes Research Interdisciplinary Working Group. Circulation 2007; 116 (15): 1736-54.
Stella Ganassim Palhares
Cirurgiã-dentista. Especialista em Endodontia. Especialista em Dentística Estética. Diretora administrativa da DS Oral Odontologia Avançada.