Uma pesquisa publicada pela University College London afirma que os atletas de alto nível têm a saúde bucal precária, mesmo aqueles que possuem o hábito de escovar os dentes duas vezes ao dia. Os pesquisadores do Eastman Dental Institute entrevistaram 352 atletas olímpicos de 11 modalidades para levantar os dados.
A integrante da Câmara Técnica de Odontologia do Esporte do Conselho Regional de Odontologia de São Paulo (CROSP), Dra. Neide Pena Coto, explica que a redução da capacidade tampão da saliva, ingestão de suplementos e repositores hidroeletrolíticos em forma de bebidas são grandes vilões para a saúde oral dos atletas, sendo um risco para a diminuição de fluxo salivar (durante treinos e competições). Não só por esses casos, mas também por higiene oral precária, podem ter a saúde bucal comprometida, de acordo com estudo realizado por uma equipe brasileira (Ferradans et al, 2020).
A profissional enfatiza que bebidas gasosas e energéticas impactam a saúde bucal dos atletas, sendo capazes de diminuir o pH salivar a níveis críticos (abaixo de 5.5), deixar lesão cervical não cariosa e gerar hipersensibilidade dentinária.
Sobre os atletas que escovam os dentes duas vezes ao dia e, mesmo assim, possuem a saúde bucal precária, a Dra. Neide esclarece que as causas são multifatoriais, individuais e que precisam ser consideradas questões envolvendo a dieta, higiene oral, ingestão de líquidos e tempo de treinamento.
Legislação
Para garantir o acesso a cuidados com a saúde bucal de atletas, projetos de lei foram aprovados nos últimos anos. O PL número 11.163-B, de 2018, foi aprovado em 2021, e dispõe que os clubes serão responsáveis pela assistência odontológica, educação, prevenção, tratamento de problemas de saúde bucal, traumatismo e complicações ocorridas durante treinos e competições.
Também foi aprovado o projeto da Comissão do Esporte da Câmara dos Deputados, Lei 1.283/22, que busca obrigar as entidades de prática desportiva a oferecer assistência odontológica de urgência e emergência ao atleta profissional, vítima de traumatismo, além de obrigá-las a oferecer recursos e equipamentos necessários. A norma complementa a lei nº 9.615, de 24 de março de 1998 (Lei Pelé), que assegurava somente a realização de exames médicos e clínicos voltados à atividade profissional.
Atletas e os cuidados com a saúde bucal
“Os hábitos de higiene bucal são muito importantes para a manutenção da saúde oral. Os atletas devem ser orientados com melhor tipo de escova, creme dental com concentração de flúor maior ou igual a 1.500ppm, uso de fio e fita dental, tudo isto sob supervisão de um cirurgião-dentista especialista em Odontologia do Esporte”, pontua a integrante da Câmara Técnica de Odontologia do Esporte.
A especialista frisa que não existe regra para uma rotina de higiene bucal ideal para os atletas de alto nível, porém é importante que os profissionais façam ingestão de água durante treinos e competições. A escovação deve ser feita independentemente de ser um paciente atleta ou não, sendo a escovação de duas a três vezes ao dia com uso de fio ou fita dental, item que a Dra. Neide salienta ser esquecido pelos atletas. Também deve ser considerado o uso de protetores bucais individualizados, confeccionados pelo cirurgião-dentista, garantindo, assim, a integridade de dentes, ossos e tecidos adjacentes.
Fonte: CROSP