Olá amigos, mais um fim de ano chegando, época de reflexões, autoavaliações e as famosas promessas – comer menos, fazer academia, ter mais tempo para si, economizar, trocar de consultório, reformar consultório. Mas existe uma determinada reflexão que deveria chamar mais a atenção, pelo menos para nós: a inserção de novos materiais no mercado odontológico.
Com uma quantidade cada vez maior de pacientes geriátricos, e estes cada vez mais informados e críticos, pedindo ações que viram na televisão, no Google ou ainda algo indicado pela comadre, pedindo algumas soluções, no mínimo, mirabolantes, você teria condições de avaliar a necessidade ou a indicação do procedimento pedido?
Você atende um paciente de 70 anos, com uma restauração em amálgama feita no início dos anos 1970, realizada com os procedimentos indicados na época: extensão preventiva, as proximais amplas (para facilitar as coisas), uma MOD em segundo molar superior com a normal oxidação pelo tempo. Você radiografa e tem a surpresa: nenhuma infiltração ou cárie recorrente.
Mas o referido senhor quer trocá-la, pois ouviu falar que amálgama é tóxica – por causa do mercúrio – e o material também é feio. Qual seria, então, o seu procedimento?
- Polir a restauração.
- Fazer a endodontia e uma coroa metal free.
- Refazer a restauração em resina composta.
- Extrair o dente e colocar um implante.
Eis as primeiras perguntas que você deve se fazer: “você consegue restaurar aquele dente?”. “O material que você irá utilizar terá o mesmo comportamento clínico?”. “Um parêntese, neste seu tempo de formado, tente se lembrar de quantos materiais foram lançados como miraculosos. Eles se mostraram confiáveis?”.
Basta procurar no fundo da sua geladeira, no fundo de alguma gaveta ou canto de algum armário do consultório, quantas resinas, instrumentais para inserção, ácidos, matrizes especiais, dosadores, e por aí vai.
A novidade de hoje são as resinas “bulk”, que alguns chamam de mono incremental. Se é mono, ou seja, colocado tudo em uma porção, por que incremental em porções?
Com a novidade você pode polimerizar com um incremento de 4mm ou em um único inserto, fazendo a escultura, para depois polimerizar tudo de uma só vez.
É o assunto do momento, com vários cursos e palestras dedicados ao tema. Praticamente todas as empresas lançaram suas resinas, umas como flow, heavy flow, autonivelantes. E o preço também varia ao extremo. Será que funciona?
No mínimo, devemos esperar por mais testes longitudinais, ou seja, qual o comportamento delas com o tempo, variações térmicas bucais durante a mastigação e qual é o seu comportamento dinâmico? Será só mais uma moda? Nesses tempos de vaca magra, vale o investimento?
Sempre lembro das palavras de um grande amigo e professor ilustre de Endodontia, Dr. Kleber de Carvalho: “nunca seja o primeiro a usar um produto e nunca seja o último. Cheque, pergunte, teste em manequins, assista a simpósios, congressos e tenha sempre uma visão crítica. Será bom para o meu paciente? Será bom para meu nome profissional?”.
E voltando à pergunta do início desta coluna, o que o amigo faria no caso da MOD?
Um grande abraço, um lindo fim de ano e um 2017 repleto de realizações pessoais e profissionais.
Augusto Roque Neto
Cirurgião-dentista. Especialista em Dentística Restauradora. Mestre em Clínicas Odontológicas. Professor Adjunto do Curso de Odontologia Faculdade de Saúde, Universidade Metodista de São Paulo.