O câncer de cabeça e pescoço compreende todos os tumores de lábio, cavidades oral e nasal, faringe, até a laringe e ouvido médio. É o terceiro tumor mais prevalente mundialmente, e representa 7% dos 22,4 milhões de indivíduos com o diagnóstico de câncer, excluindo o câncer de pele (não melanoma).
Os tratamentos utilizados para esta enfermidade envolvem três modalidades: cirurgia, radioterapia e quimioterapia, que podem ser administrados de forma exclusiva ou simultaneamente. Na maior parte das vezes, a terapêutica não diferencia as células tumorais, que se dividem rapidamente, das células normais. Consequentemente, tanto a quimioterapia como a radioterapia produzem, com frequência, vários efeitos colaterais, que se manifestam na cavidade oral, incluindo a mucosite, cáries cervicais, xerostomia, ageusia e disgeusia, infecções secundárias, osteorradionecrose e trismo.
A mucosite oral é um dos efeitos colaterais mais comuns do tratamento antineoplásico. É encontrada em aproximadamente 40% dos pacientes que são submetidos a quimioterapia, e em quase 100% dos pacientes submetidos à radioterapia na região de cabeça e pescoço, apresentando-se em graus variáveis, além de ser a complicação mais comum em pacientes submetidos a transplante de medula óssea.
Caracteriza-se por condição inflamatória da mucosa que se manifesta na mucosa do trato gastrointestinal e da cavidade oral, por meio de eritema, ulceração, hemorragia, edema e dor. Além da importante sintomatologia, as ulcerações aumentam o risco de infecção local e sistêmica, e comprometem a função oral.
Além disso, as lesões de mucosite oral podem induzir a uma dor severa que necessite da administração de analgésicos opioides e coincidir com a fase de neutropenia e trombocitopenia, aumentando o risco de infecções e hemorragias orais. Muitas vezes, em decorrência de sua morbidade, o tratamento antineoplásico sofre alteração ou é suspenso, interferindo consequentemente, no controle da doença e na sobrevida do paciente.
Nas últimas décadas, o avanço da tecnologia, principalmente por meio dos conhecimentos de física, tem propiciado o surgimento de novos equipamentos utilizados nas áreas de diagnóstico e terapêutica.
Nesse sentido, a laserterapia constitui-se em uma ferramenta terapêutica essencial na prevenção e tratamento da mucosite oral, podendo ser usada isoladamente ou associada ao tratamento medicamentoso.
Por décadas, vem sendo bastante utilizado na área médica, mas somente em 1968, pesquisadores observaram, de maneira efetiva, os efeitos terapêuticos da laserterapia em Odontologia. Muito divulgado para finalidade de clareamento dental, o uso do laser em Odontologia vai muito além, atuando como coadjuvante no tratamento de diversas doenças.
A palavra laser se origina da abreviação de seu próprio significado, (Light Amplification by Stimulated Emission of Radiation), referindo-se à amplificação da luz por emissão estimulada de radiação.
A ação do laser de baixa potência proporciona alívio da dor, mais conforto ao paciente, controle da inflamação, manutenção da integridade da mucosa e melhor reparação tecidual. Para o paciente, isso significa qualidade de vida, uma vez que os pacientes acometidos com a mucosite oral possuem grande dificuldade em se alimentar, deglutir e higienizar a cavidade oral. Neste sentido, garantir ao paciente a possibilidade de poder se alimentar corretamente melhora sua condição geral, fundamental para o sucesso do tratamento médico no qual ele se encontra.
É considerada um tipo de terapia segura, com indicações e contraindicações bem determinadas. A interação da luz laser com os tecidos pode levar a diferentes resultados, tanto inibindo, quanto proliferando células. Esses resultados dependem de vários fatores, desde o comprimento de onda da luz laser, dose, potência aplicada até propriedades ópticas dos tecidos. Dessa forma, uma vez avaliados os parâmetros físicos e biológicos para seu emprego, a laserterapia oferece muitos benefícios, tanto relacionados com o tratamento da doença quanto à melhora do estado geral do paciente.
Rhayany Lindenblatt Ribeiro
Cirurgiã-dentista. Especialista em Estomatologia. Doutora e mestre em Patologia Bucal. Habilitada em Laserterapia. 1º Ten Dent Adjunto da Clínica de Semiologia da Odontoclínica Central do Exército.