Por: Vanessa Navarro
A ginástica laboral é a prática de exercícios físicos realizados no local e horário de trabalho, trazendo benefícios dentro e fora dele.
De acordo com Vanessa Camilo Borges, educadora física e especialista em Fisiologia do Exercício e em Ginástica Laboral, teoricamente essa prática seria realizada coletivamente, porém, é possível observar muitos profissionais liberais, como os da saúde bucal, realizando tais exercícios individualmente”.
O principal objetivo da ginástica laboral é melhorar a condição física do trabalhador, trazendo saúde e qualidade de vida. Isso ocorre por meio do fortalecimento de musculaturas exigidas durante a jornada de trabalho.
“A primeira notícia que temos sobre a prática da ginástica laboral veio da Polônia, em 1925, onde também era conhecida como ginástica de pausa. No mesmo período, foram realizadas pesquisas na Alemanha Ocidental, Bulgária e Holanda, e alguns anos depois, na Rússia, onde já havia cerca de cinco milhões de adeptos”, esclarece a especialista.
No Japão, em 1928, a ginástica laboral se desenvolveu efetivamente, e depois da Segunda Guerra Mundial, se firmou-se no mundo todo. No Brasil, a prática surgiu em 1973.
Tipos de ginástica laboral
A educadora física e também membro da diretoria da ALAPOS (Associação Latino-americana de Pesquisa em Odontologia e Saúde) explica que alguns autores classificam a ginástica laboral de formas diferentes, mas considera mais corrente a definição de Maciel et al., 2005, que a classifica das seguintes formas: preparatória, compensatória, de relaxamento e corretiva.
Ginástica laboral preparatória
Realizada no início da jornada de trabalho, ela ativa fisiologicamente o organismo, prepara para o trabalho físico e melhora o nível de concentração e disposição, elevando a temperatura do corpo, oxigenando os tecidos e aumentando a frequência cardíaca. Tem a duração aproximada de 10 a 12 minutos. Inclui exercícios de coordenação, equilíbrio, concentração, flexibilidade e resistência muscular.
Ginástica laboral compensatória
Com duração de 5 a 10 minutos, realizada durante a jornada de trabalho, sua principal finalidade é compensar todo e qualquer tipo de tensão muscular adquirido pelo uso excessivo ou inadequado das estruturas musculoligamentares. Tem o objetivo de melhorar a circulação com a retirada de resíduos metabólicos, modificar a postura no trabalho, reabastecer os depósitos de glicogênio e prevenir a fadiga muscular. São sugeridos exercícios de alongamento e flexibilidade, respiratórios e posturais.
Ginástica laboral de relaxamento
Realizada no fim da jornada de trabalho, a modalidade tem a duração de 10 a 12 minutos, e tem como objetivo a redução do estresse, alívio das tensões, redução dos índices de desavenças no trabalho e em casa, com consequente melhoria da função social. São realizadas automassagens, exercícios respiratórios, exercícios de alongamento e flexibilidade e meditação.
Ginástica laboral corretiva
A finalidade da ginástica laboral corretiva é estabelecer o antagonismo muscular, utilizando exercícios que visam fortalecer os músculos fracos e alongar os músculos encurtados, destinando-se ao indivíduo portador de deficiência morfológica, não patológica, sendo aplicada a um grupo reduzido de pessoas. Entretanto, a ginástica laboral corretiva visa combater e, principalmente atenuar as consequências decorrentes de aspectos ecológicos ergonômicos inadequados ao ambiente de trabalho.
“Todos os tipos de ginásticas laborais são recomendados ao profissional de saúde bucal, mas sabemos que raramente isso acontece. Neste caso, o mais indicado seria a ginástica laboral compensatória, principalmente por aliviar o estresse físico e emocional sofrido durante a jornada de trabalho”, esclarece a educadora física Vanessa Camilo Borges.
A saúde do dentista e da equipe auxiliar
A ginástica laboral traz inúmeros benefícios ao cirurgião-dentista e à equipe auxiliar. “O cirurgião dentista é um profissional que trabalha mantendo posturas repetitivas e exaustivas durante horas de trabalho, e a equipe auxiliar também. Na maioria das vezes, os profissionais mantêm uma postura totalmente inadequada, até mesmo na forma de sentar”, alerta a especialista.
Geralmente esses profissionais não têm tempo para realizar uma atividade física, o que seria altamente recomendável. Por isso, a ginástica laboral é uma ótima alternativa. “São tantos os benefícios da ginástica laboral para os profissionais de Odontologia, que os classificamos nos seguintes aspectos: fisiológicos, psicológicos, sociais e empresariais”, elucida a profissional de Educação Física.
Benefícios fisiológicos
- Promove a sensação de disposição e bem-estar para o trabalho.
- Diminui as inflamações e traumas.
- Diminui a tensão muscular desnecessária.
- Diminui o esforço na execução das tarefas diárias.
- Combate e previne doenças profissionais, sedentarismo, estresse, depressão, ansiedade.
- Melhora a flexibilidade, a coordenação e a resistência, promovendo mais mobilidade e melhor postura.
Benefícios psicológicos
- Desenvolve a consciência corporal.
- Favorece a mudança da rotina.
- Auxilia na autoestima e melhora a autoimagem.
- Melhora a capacidade de atenção e concentração no trabalho.
- Combate tensões emocionais.
Benefícios sociais
- Desperta o surgimento de novas lideranças.
- Favorece o contato pessoal.
- Promove a integração social.
- Favorece o trabalho em equipe.
- Melhora as relações interpessoais.
Benefícios empresariais
- Propicia mais produtividade por parte do trabalhador.
- Diminui o número de queixas, afastamentos médicos, acidentes e lesões.
- Reduz os gastos com afastamentos e substituições de pessoal.
- Melhora a imagem do consultório perante a equipe e os pacientes.
Ginástica laboral é prevenção
Muitas doenças ocupacionais podem ser evitadas por meio da prática diária da ginástica laboral.
Existe uma nomenclatura na ginástica laboral que define alguns casos clínicos característicos de doenças ocupacionais, denominada LER/DORT. “É importante esclarecer a diferença entre LER e DORT. A segunda é muito mais comum, pois determina qualquer lesão ocasionada pelo trabalho, como a própria terminologia determina. Já a LER seria uma evolução de DORT. Quando diagnosticadas em fase inicial são grandes as chances de cura, algo que dependerá muito da disciplina do paciente”, instrui a especialista.
Devido aos aspectos inerentes ao desempenho da profissão, os cirurgiões-dentistas tem na articulação do ombro um dos pontos mais atingidos por lesões. Isso se explica pelo fato dessa articulação ser muito complexa, permitindo uma grande variação de movimentos (flexão, extensão, abdução, adução e rotações interna e externa), fato que, ao longo da jornada de trabalho e sob a influência de fatores, como a resistência exercida pela gravidade, levam tal articulação à exaustão, podendo causar lesões. “Tendinite, bursite, tenossinovite, cervicobraquialgia, síndrome do ombro doloroso, síndrome do túnel do carpo, cifoescoliose, hérnia de disco e ciatalgia são as principais patologias que podem ser diagnosticadas em profissionais da área odontológica”, alerta Vanessa Camilo Borges.
Acompanhe alguns exercícios indicados pela educadora física.
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