Caros colegas, gostaria de abordar, nesta minha segunda coluna, o tema prevenção em Odontologia.
Segundo dados da FDI World Dental Association, mais de 90% das pessoas desenvolverão alguma forma de doença oral durante sua vida, sendo cárie, gengivite e periodontite em sua grande maioria. Considerando que somos mais de um milhão de cirurgiões-dentistas no mundo, será que estamos fazendo a nossa parte? Será que estamos focando demasiadamente nos problemas e nos esquecendo de como evitarmos tais problemas, antes deles aparecerem e se instalarem?
O que é feito de prevenção em Odontologia?
Será que a fluoretação das águas vem sendo suficiente para evitar tais problemas? Aqui vale uma ressalva: o flúor ainda tem seu papel de fundamental importância de política de saúde pública, sem dúvidas, mas será que só isso é suficiente?
Claro que existem programas de política de saúde pública voltados para a área da Odontologia, mas será que nós, cirurgiões-dentistas clínicos, também não temos que fazer a nossa parte? Fazemos prevenção com nossos clientes em nossas clínicas particulares? Eles recebem a orientação de como devem manter a sua saúde oral por toda a vida? Ou nos limitamos a dar a eles escovas de dentes e nos despedirmos dizendo: “Não se esqueça de escovar mais esses dentes, hein?”.
Assim, o dentista A que gostar de escovas duras, recomendará essa aos seus clientes. E se o colega B gostar de escovas macias, será essa a recomendada. Como fica a cabeça de nosso cliente diante de tal despreparo de nossa classe frente ao tema? Qual a melhor técnica de escovação? Como fazer? Devo usar qual tipo de escova? Como usar? E o fio-dental? E o enxaguatório?
Respondemos a todas a essas dúvidas de nossos clientes ou deixamos eles irem embora e a indústria de oral care ditar as regras, deixando nós, cirurgiões-dentistas, relegados às suas tendências mercadológicas?
Sabemos de longa data desse comportamento da indústria, mas, infelizmente, não nos posicionamos frente à frente, por também estarmos muitas vezes “cegos”. Afinal, qual de nós não se sente “agraciado” quando as empresas nos visitam e nos levam meia dúzia de escovas e um enxaguatório bucal em frascos de litros?
Por que será que vemos aumentar cada vez mais a incidência de hipersensibilidade dentinária em nossos consultórios, com aumento também na incidência de lesões cervicais não cariosas? Será que a forma da escovação e o tipo de cerdas de algumas escovas não têm relação com isso? Associe a isso, cremes dentais cada vez mais abrasivos, e o resultado? Hipersensibilidade.
E sabemos bem que a hipersensibilidade ainda não apresenta tratamentos efetivos em longo prazo. Além do uso de vernizes, restauração dessas lesões ou recobrimento radicular, quando indicados, a única alternativa são os cremes dentais dessensibilizantes. Isso quer dizer, produtos que possuem um valor mais elevado. Deixo para você a conclusão desse pensamento.
É hora de revermos os conceitos e assumirmos uma postura coesa e mais ativa em defesa de nossos pacientes, c20e ética em relação aos tratamentos e a suas consequências.
É hora da ação ou da Preven-AÇÃO.
Até a próxima e um forte abraço.
Eduardo Sampaio
Periodontista e implantodontista. Professor de Pós-Graduação em Periodontia, Implantodontia e Prótese da Zenith Educação Continuada (Florianópolis – SC). Atua em clínica particular com ênfase em reabilitação oral estética e cirurgias plásticas periodontais e perimplantares. Sócio fundador do portal Periodonto.Net e palestrante em diversos congressos pelo Brasil.