O aumento da população com mais de 60 anos em todo o mundo incrementa as discussões sobre como envelhecer com saúde. Só no Brasil, de acordo com dados do IBGE, dos 201,5 milhões de habitantes, 26.1 milhões são pessoas com mais de 60 anos. Além disso, a expectativa de vida cresceu, passando de 62,7 para 73,9 anos.
Neste cenário, a preocupação com o bem-estar e qualidade de vida desse nicho da população torna-se cada vez mais evidente, e entre os fatores que melhoram as condições de vida destacam-se os cuidados com a saúde bucal. O medo dos procedimentos odontológicos construído e consolidado ao longo da vida, contribuem para a negligência à higiene bucal.
Entretanto, é na terceira idade que ocorrem diversas mudanças provocadas pelo envelhecimento em todo o organismo, principalmente na boca. De acordo com a cirurgiã-dentista Dra. Regina Fernandes, especialista em Prótese Dentária, Profa. Dra. na área de Reabilitação Oral da FORP-USP, e membro da AORP – Associação Odontológica de Ribeirão Preto, com o passar do tempo, as mucosas ficam mais sensíveis e finas, e pode ocorrer a diminuição da quantidade de saliva, devido os efeitos colaterais de medicamentos. Essa secura pode causar o acúmulo de bactérias depositadas na parte posterior da língua levando a reinfecções pulmonares. “Há ainda a diminuição na percepção dos sabores, o que pode acarretar em maior consumo de açúcar e sal, agravando problemas de diabetes e pressão alta, além do escurecimento dos dentes”.
Dessa forma, é imprescindível que o idoso seja acompanhado periodicamente pelo dentista para as manutenções, englobando limpeza e polimentos dos dentes, polimento das restaurações existentes, exame dos tecidos moles, como língua e bochecha. “Além de ser uma maneira de prevenir doenças, esses procedimentos geram bem-estar e conforto ao idoso, o que reflete no seu convívio familiar e social”, enfatiza Dra. Regina. “A periodicidade às idas ao consultório deve variar entre três e seis meses, dependendo das condições gerais do idoso”, acrescenta.
Neste universo, a Odontologia atual tem um amplo leque de novos procedimentos, imbuídos de novas tecnologias à disposição da melhor idade, entre elas as próteses desenhadas e executadas com o auxílio do computador e os implantes realizados com técnicas cirúrgicas menos invasivas, auxiliadas por softwares avançados e precisos. Segundo Dra. Regina, essas associações diminuem o tempo de procedimento, e menor exposição do campo cirúrgico gerando menos dor, edema e risco à infecção. “Atualmente, os materiais restauradores também se apresentam mais estéticos e resistentes. Vale ressaltar que todo tratamento deve ser bem planejado e realizado de acordo com a condição pessoal de saúde e limpeza dos dentes do idoso”.
“Além disso, é importante reforçar, que as tão temidas ‘dentaduras’ beneficiam a saúde geral do idoso, pois devolvem a mastigação, auxiliam a fonética, e o idoso resgata a autoestima com o retorno do sorriso. Somado a isso, apresenta-se como uma solução rejuvenescedora, já que além de repor dentes, contribuem para a reposição de lábios e diminuição de sulcos faciais causados pelo tempo, sendo um tratamento adequado para aqueles que não podem realizar implantes, seja por problemas na estrutura óssea, ou por questões econômicas”, salienta a cirurgiã-dentista.
Do mesmo modo, o tão desejado e temeroso tratamento empregando os implantes são possíveis de serem realizados, pois auxiliam e muito a mastigação, mas existem barreiras de saúde geral, econômica, e de cognição para um idoso receber este tipo de trabalho.
Por fim, os cuidados com a saúde bucal vão além do tratamento dentário. Os tecidos moles, como bochecha e língua também devem ter a atenção do dentista. Isso porque, pesquisas têm mostrado que alguns problemas apresentados na boca podem ter relação com problemas cardíacos, pneumonias aspirativas, entre outros.
Fonte: AORP