Por: Vanessa Navarro
O Odontopediatra exerce um papel fundamental na educação em saúde dos bebês e de seus pais.
O ideal é que as visitas ao consultório odontológico aconteçam antes mesmo do nascimento dos dentes do bebê.
De acordo com o especialista Gabriel Tilli Politano, as consultas antes da erupção dentária são essenciais para que os pais recebam algumas orientações que não são diretamente ligadas aos dentes. A existência do freio lingual curto, por exemplo, pode ser diagnosticada precocemente, evitando o risco de comprometer o aleitamento.
“Nessas visitas, os pais vão aprender, por exemplo, como deve ser feita a utilização da chupeta de maneira correta. Pense que uma criança tem o primeiro dentinho por volta do primeiro ano de existência, e a mãe ou o pai só a leva a um consultório odontológico com essa idade. Se tiver o costume de usar a chupeta da forma errada, a criança já está viciada. Ou seja, faltou receber a orientação na hora certa, que seria ou ainda durante a gestação ou bem no comecinho de vida do bebê”, explica o Mestre em Odontopediatria.
Outros temas, também de suma importância, são tratados no consultório do Odontopediatra, como o aleitamento, o uso da mamadeira e os sintomas da erupção dos dentinhos.
“É muito raro os pais levarem crianças com poucos meses de vida ao dentista. Eles costumam levar só quando existe alguma queixa, por esse motivo, nós costumamos conscientizá-los dessa importância durante a gestação. Por isso, enfatizo que é muito importante o pré-natal odontológico”, afirma o Dr. Politano. “Quando o acompanhamento é feito durante a gestação, as mães estão mais ávidas por informações, e a absorção de tais informações cedidas pelo Odontopediatra surte muito mais efeito. O profissional de saúde bucal deve divulgar a importância do pré-natal odontológico, de aprender coisas que não se referem aos dentes antes dos dentes”, completa.
A Pesquisa Nacional de Saúde (PNS), realizada em parceria com o Ministério da Saúde (MS), apontou um dado preocupante em relação ao aleitamento materno. No grupo pesquisado, apenas um pouco menos da metade dos bebês ainda eram amamentados pelas mães entre nove e 12 meses, quando o recomendado pelo MS é que a amamentação se estenda até os dois anos, pelo menos. O leite materno possui todas as vitaminas e nutrientes necessários para a saúde e formação do bebê e o gesto também é um grande aliado da saúde bucal dos pequenos. “A amamentação é um fator determinante para o desenvolvimento da respiração oral, para o crescimento craniofacial, para o desenvolvimento da mandíbula, e para o correto estímulo muscular adequado, que não é desenvolvido com o uso de mamadeira”, elucida o Odontopediatra.
Quando surgem os dentes
A referida pesquisa ainda mostrou informações inquietantes em relação à saúde da criança, que, seguindo os passos da vida moderna de pais e familiares, passou a se alimentar de maneira inadequada. Tal estudo aponta que três em cada 10 bebês brasileiros tomam refrigerante antes dos dois anos, por exemplo.
Dr. Gabriel ressalta que é muito importante saber que o açúcar, se consumido da maneira correta, não causa cárie. “Filhos de dentistas comem açúcar, comem doces, mas, raramente, filhos de dentistas têm cárie. Afinal, os profissionais de saúde bucal sabem que o uso frequente e desenfreado do açúcar é o que pode causar a doença. Os chamados ‘beliscos’ em horas inapropriadas são os grandes vilões quando o assunto é cárie. Além dos beliscos, a mamadeira noturna também pode ser um fator de risco para a saúde bucal da criança”, expõe.
A primeira infância é o momento certo para criar hábitos alimentares corretos. “Não é o domingo na casa da avó, comendo de maneira inadequada, que vai causar a cárie. Os pais precisam ter uma postura rígida em relação ao consumo desenfreado dos doces. Mas é necessário salientar que a cárie acontece apenas se existir um hábito frequente e exagerado de consumo de açúcar, ou seja, se a criança consumir doces todos os dias de maneira frenética”, esclarece o Odontopediatra.
Quando a questão é a saúde geral dos pequenos, é preciso frisar que o consumo exagerado de açúcar não causa apenas a cárie. Outras doenças, como diabetes e obesidade não podem ser esquecidas.
O trabalho em equipe, ou seja, profissionais de Odontologia com outros profissionais da saúde, é fator estabelecido para garantir a saúde integral do bebê. O ideal é que o Odontopediatra faça parte da equipe médica envolvida no possível tratamento de uma criança, para que juntos possam desenvolver um trabalho justo e eficaz de prevenção.
“Discutimos muito sobre o tema durante o Congresso Brasileiro de Odontopediatra, realizado recentemente em Recife. Falamos abertamente sobre a inclusão do Odontopediatra nos CEOs – Centro de Especialidades Odontológicas – CEO. Consideramos, de forma unânime, que não é correto esperar as crianças atingirem quatro, cinco ou seis anos, desenvolverem cárie, para então utilizar de tratamento curativo. É essencial acompanhar de perto as gestantes, o desenvolvimento dos bebês e puérperas, para estabelecer um trabalho correto de prevenção”, defende o também Doutor em Ciências Médicas.
Qualidade de vida
É indiscutível que o tratamento odontológico ideal ou a ausência dele pode refletir na vida das crianças de maneira positiva ou negativa.
“Hoje em dia, pesquisa-se muito sobre qualidade de vida. Ter alterações de oclusão, o que predispõe ao trauma na dentição decídua, ou apresentar cárie precoce na infância interfere, e muito, na qualidade de vida da criança. Uma criança com cárie, por exemplo, tem comprometimento mastigatório, ela pode ter dor, desenvolvimento inadequado, além disso, a parte social é comprometida, pois existem, infelizmente, os amiguinhos que criticam”, alerta o cirurgião-dentista. “Pensando no desenvolvimento; no crescimento craniofacial, que depende da mastigação, da harmonia dos dentes, da musculatura, e pensando que as doenças odontológicas interferem sim na qualidade de vida e na boa alimentação, é possível afirmar, de maneira categórica, que o atendimento odontológico é primordial para o desenvolvimento geral de um indivíduo”, finaliza.