Lesões pigmentadas na cavidade oral – parte 2

Lesões pigmentadas na cavidade oral – parte 2

No último artigo abordamos as lesões pigmentadas na cavidade oral, associadas à melanina, excluindo as que se originam por distúrbios sistêmicos. Caso ainda não tenha lido, clique aqui.

Sobre as lesões melanocíticas relacionadas às desordens sistêmicas, podemos encontrar pigmentações associadas com a Doença de Addison, a Síndrome de Peutz-Jeghers, a Síndrome de Laugier-Hunziker, a Doença de Albright, a Neurofibromatose e aos medicamentos e metais pesados. Abordaremos os principais aspectos de cada tópico.

A Doença de Addison, endocrinopatia também chamada hipofunção adrenal primária, leva à redução nos níveis de cortisol. Consequentemente há aumento do hormônio adrenocorticotrófico (ACTH) circulante, que estimula os melanócitos, levando ao desenvolvimento de lesões pigmentadas em pele e mucosas, principalmente em zonas de flexão e áreas submetidas à pressão mecânica.

A Síndrome de Peutz-Jeghers caracteriza-se principalmente pela pigmentação melânica mucocutânea e pólipos hamartomatosos gastrointestinais. Máculas na região facial, perioral, labial e em mucosa jugal muitas vezes são os primeiros achados que levam a suspeitar sobre a síndrome. O diagnóstico é importante, pois seus portadores têm maior incidência de neoplasias e, portanto, devem receber acompanhamento médico adequado.

A Síndrome de Laugier-Hunziker é de etiologia desconhecida, adquirida, caracterizada por hiperpigmentação macular em mucosa oral e lábios, comumente associada à pigmentação longitudinal das unhas, também chamada de melanoníquia longitudinal. As lesões não têm potencial de malignização.

A Síndrome McCune-Albright compreende um amplo espectro de anomalias associadas. Além de manifestações cutâneas, hiperpigmentações assimétricas e irregulares, os portadores da “Doença de Albright” também apresentam distúrbios ósseos e endócrinos.
Neurofibromatose é uma doença genética, que pode ser tipo 1, tipo 2 ou Schwannomatose.

A neurofibromatose tipo 1 é relativamente comum, apresentando frequência de 1:3.000 nascidos vivos, enquanto os outros tipos são raros. As características dos portadores inclui diferentes graus de macrocrania, baixa estatura, alterações da força muscular, da motricidade oral e da voz. Neurofibromas plexiformes podem ser encontrados e estar associadas à hiperpigmentação e/ou hipertricose.

A administração de alguns fármacos pode induzir pigmentações. Quando induzidas por medicamentos, as lesões geralmente são difusas, multifocais, acinzentadas ou azuladas, localizadas em palato duro e gengiva.

Drogas utilizadas no tratamento da artrite reumatoide, do lúpus eritematoso e alguns anti-neoplásicos podem levar ao surgimento de lesões em mucosa oral de bordas bem delineadas. Pigmentação perioral pode ser observada após uso de contraceptivos orais.

Fenolftaleina, Minociclina, Busulfan, Tetraciclina, Mesilato de Imatinibe, Antimaláricos, Ciclofosfamida, Fenotiazinas e Cetoconazol são apenas alguns dos medicamentos que podem causar pigmentação.

Em relação aos metais pesados, a ingestão ou inalação de bismuto, chumbo e mercúrio tem potencial de pigmentar a margem cervical gengival, gerando uma lesão linear. A permeabilidade vascular é aumentada por processos inflamatórios, gerando a deposição dos metais pela precipitação de sulfitos liberados por bactérias orais.

Alterações na pigmentação também podem ter sua etiologia em infecções, traumas, hábitos e outras causas, corroborando a importância de uma anamnese minuciosa e diagnóstico adequado.


AlineAline Queiroz de Almeida
Cirurgiã-dentista. Membro da Sociedade Brasileira de Estomatologia e Patologia Oral. Concluiu Residência no Hospital de Câncer de Barretos – Fundação Pio XII. Atende em clínica particular em Barretos e Bebedouro (SP).

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