Resultados de pesquisa realizada na Faculdade de Odontologia de Ribeirão Preto (FORP) da USP mostram que o bruxismo do sono causa diminuição da atividade elétrica dos músculos mastigatórios.
O estudo revelou que a espessura dos músculos da mastigação e da força da mordida não se alteraram e também confirmou piores condições na qualidade de vida desse público que sofre com o sono ruim, aumento do número de vezes que desperta e cansaço muscular provocado pelo ranger e apertar dos dentes devido à movimentação desses músculos, durante o sono.
No caso dos portadores de bruxismo do sono, a resposta diminuída desses sinais elétricos pode ser de proteção do próprio organismo para que não ocorra fadiga muscular ou também pode ser que a fadiga já esteja instalada. Mas, o pesquisador responsável pelo estudo, Marcelo Palinkas, adianta que “são apenas hipóteses”, pois não avaliaram o processo de fadiga muscular nesta pesquisa.
Impacto positivo
“O impacto do estudo foi ‘extremamente positivo’”, avaliou Palinkas, pois “demonstrou a lacuna existente na literatura médica e odontológica quanto à análise desses músculos relacionados ao tema bruxismo”. Além de oferecer informações para estudos científicos nessa área, a pesquisa mostrou a importância de atuação multiprofissional, de dentistas e médicos, para oferecer à população ferramentas e diagnósticos mais precisos do distúrbio do sono.
Para o especialista, com diagnóstico preciso, “os prognósticos serão mais favoráveis e o tratamento mais adequado, podendo proporcionar melhor qualidade de vida aos portadores do bruxismo do sono”.
Como demonstrou que os portadores de bruxismo do sono sofrem alterações funcionais dos músculos da mastigação, Palinkas defende o uso da polissonografia, que é considerado exame “padrão ouro internacional”, para que o diagnóstico seja mais preciso, pois “analisa toda a arquitetura do sono”, isso, apesar de ser um exame caro. No Brasil, continua ele, muitos cirurgiões-dentistas realizam apenas o diagnóstico do bruxismo pelo exame clínico.
Uso da tecnologia para diagnósticos mais precisos
Para o estudo, foram analisadas 90 pessoas de 18 a 45 anos de idade. Todas foram submetidas a polissonografia, confirmando ou descartando o bruxismo do sono. Com os dois grupos de pessoas —aquelas que apresentavam o bruxismo e as que não —, Palinkas passou todos por análises em equipamentos eletrônicos de última geração para verificar atividade elétrica e espessura muscular, força da mordida e análise da qualidade de vida de cada um.
A baixa atividade elétrica foi detectada nos portadores de bruxismo do sono durante avaliação clínica, em exame eletromiográfico — com aparelho que oferece informação de quanto e como um músculo é ativado. Conta Palinkas que, por meio desse exame, consegue-se ainda “determinar como se estabelece a coordenação de diferentes músculos envolvidos no movimento corporal, sinalizando ou não alterações funcionais”.
Esses resultados são parte da tese de doutorado Impacto do bruxismo do sono na musculatura do sistema estomatognático: avaliação eletromiográfica, força de mordida, função mastigatória, ultrassonográfica e qualidade de vida, que Marcelo Palinkas apresentou à FORP em fevereiro deste ano, com orientação da professora Simone Cecílio Hallak Regalo.
O estudo foi feito no laboratório de eletromiografia “Prof. Dr. Mathias Vitti”, na FORP, com apoio financeiro da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp). Contou com a colaboração de Graziela de Luca Canto, Laíse Angélica Rodrigues, César Bataglion, Selma Siéssere, Marisa Semprini e Simone Cecilio Hallak. Foi publicado na revista Journal of Clinical Sleep Medicine, no mês de julho, com o título Comparative Capabilities of Clinical Assessment, Diagnostic Criteria, and Polysomnography in Detecting Sleep Bruxism.
Distúrbio inconsciente
O bruxismo do sono “é considerado, quando patológico, muito grave”, alerta o pesquisador, já que influencia a qualidade de vida do ser humano, podendo provocar o “desequilíbrio funcional dos músculos da mastigação”.
Manifesta-se por movimentos repetitivos da boca (mandíbula), “decorrentes da atividade rítmica do músculo masseter, associado aos microdespertares durante o sono e ranger e/ou apertar dos dentes”.
É observado em todas as faixas etárias, sendo mais frequente dos 15 aos 40 anos. Atinge cerca de 80% a 95% da população mundial em alguma fase da vida. Aproximadamente 30 milhões de brasileiros desenvolvem o bruxismo do sono.
Mais informações sobre o estudo podem ser obtidas por meio do telefone (16) 3315-0281.
Fonte: Agência USP
Ótimo apontamento, bastante explicativo.