Por: Vanessa Navarro
Estudos mostram que a sucção é um reflexo inato, fisiológico, sendo fundamental, pois além de permitir a alimentação, supre necessidades emocionais. A sucção a ser estimulada é a da amamentação, pois, além de todos os benefícios na proteção contra infecções, desenvolvimento psicológico, orienta um adequado desenvolvimento musculoesquelético do sistema estomatognático. “Mesmo quando a mamadeira é necessária, pela impossibilidade da amamentação, é preciso lembrar que o momento de transição para o uso do copo é por volta dos sete ou oito meses, respeitando o desenvolvimento neurológico da criança”, enfatiza a Dra. Lúcia Coutinho, cirurgiã-dentista e especialista em Odontopediatria.
Quando o assunto é chupeta, especialistas apontam que a utilização não deve acontecer antes do primeiro mês de vida da criança, para não prejudicar o estabelecimento e consolidação do aleitamento materno. Segundo o levantamento do Ministério da Saúde, o uso de chupeta em crianças brasileiras menores de 12 meses é de 42,6%, e de mamadeira é de 58,4%. A Dra. Rosa Maria Eid Weiler, também especialista em Odontopediatria e mestre e doutora em Ciências Aplicadas à Pediatria, explica que a chupeta pode ser aconselhada na possibilidade de instalação do hábito de sucção de dedo. Para a criança amamentada no peito, pode-se oferecer a chupeta apenas em momentos críticos, como na dificuldade de adormecer, e ela deve ser retirada logo após o início do sono.
Os bicos das chupetas podem ser de silicone ou látex, a parte externa deve ser projetada para que a criança não engula o bico, e os produtos devem ser fáceis de esterilizar. “São realizados vários testes químicos – material e aditivos usados – e físicos, como de resistência à torção, à mordida, ao impacto, etc. Os rótulos são verificados e, passando nos testes, os bicos de mamadeira e chupetas são aprovados pelo Inmetro. Além da certificação, o Inmetro, em parceria com a Agência de Vigilância Sanitária (Anvisa), faz uma fiscalização no país inteiro, e os produtos encontrados sem certificação são apreendidos”, completa a especialista.
Chupetas e mamadeira customizadas
Recentemente o Inmetro anunciou a proibição das famosas mamadeiras e chupetas customizadas, artigos que fizeram muito sucesso durante tempo considerável.
A Dra. Lúcia Coutinho, que também é coordenadora da obra “Odontopediatria para o Pediatra”, alerta que a customização torna os produtos inseguros, com risco de as peças aplicadas, como cristais, soltarem-se durante o uso e manuseio pelo bebê, podendo ser broncoaspiradas. O mau uso dos produtos pode levar a uma pneumonia, insuficiência respiratória e até mesmo ao óbito. Ainda existe a possibilidade de toxicidade por conta da cola utilizada nos enfeites aplicados. “É preciso ressaltar que, com os adornos, a sucção de chupetas acaba por ser mais estimulada, o que não é o objetivo almejado, afinal é exigido pela portaria do Inmetro que os rótulos do bico e da mamadeira devem exibir, de forma legível e de fácil visualização, as seguintes advertências: ‘O Ministério da saúde adverte: a criança que mama no peito não necessita de mamadeira, bico ou chupeta. ‘O uso de mamadeira, bico ou chupeta prejudica o aleitamento materno’”, completa.
É papel fundamental do cirurgião-dentista conscientizar os adultos dos riscos desse tipo de produto, alertando sobre a errada priorização da estética.
Segundo a especialista em Odontopediatria, mestre e doutoranda em Ciências Aplicadas à Pediatria, Dra. Liliana Takaoka, é importante conscientizar os pais e responsáveis sobre a questão dos riscos à saúde da criança, que vão desde asfixia com os produtos que se soltam até toxicidade do material. Eles devem estar cientes que, como responsáveis, podem ser responsabilizados legalmente, caso haja acidentes nesse sentido. “Muitas vezes, os adultos procuram esses produtos com uma demanda estética e não têm ideia do risco a que submetem suas crianças. Alertá-los para isso é bastante efetivo”.
Outro agravante relacionado ao uso dessas chupetas e mamadeiras customizadas é que esses pequenos cristais e adesivos geram certo acúmulo de resíduos entre eles, o que dificulta a limpeza com qualquer um dos métodos para esterilização, deixando a desejar a questão da biossegurança.