Por: Vanessa Navarro
Caracterizada pelo encerramento dos ciclos menstruais e ovulatórios, a menopausa se inicia com idade variável, mas normalmente entre os 45 e 55 anos. Pode acontecer antes dessa fase, de forma espontânea ou cirúrgica – a chamada menopausa precoce. A menopausa cirúrgica ocorre após a retirada dos ovários ou do útero. Quando aparece após os 55 anos, é intitulada menopausa tardia.
Afirma-se que uma mulher esteja na menopausa quando apresenta ausência de ciclos menstruais há mais de um ano. “Esse tempo de transição que antecede a menopausa é chamado de climatério. Nesse período, o organismo deixa de produzir, de forma lenta e gradativa, os hormônios estrogênio e progesterona, permitindo transformações no organismo feminino e aumentando a possibilidade de aparecimento e agravamento de doenças”, explica o Dr. Sérgio Kignel, cirurgião-dentista especialista em Estomatologia, mestre e doutor em diagnóstico bucal.
Durante a menopausa, a qualidade de vida da mulher é alterada (e muito) por diversas razões. “Ondas de calor ou fogachos; irregularidades na duração dos ciclos menstruais e na quantidade do fluxo sanguíneo; manifestações urogenitais, tais como dificuldade para esvaziar a bexiga, dor e premência para urinar, incontinência urinária, infecções urinárias e ginecológicas, ressecamento vaginal, dor à penetração e diminuição da libido; sintomas psíquicos, entre eles irritabilidade, labilidade emocional, choro descontrolado, depressão, distúrbios de ansiedade, melancolia, perda da memória e insônia; alterações na pele, nos cabelos e nas unhas; perda de massa óssea característica da osteoporose e da osteopenia; e o risco aumentado de doenças cardiovasculares estão entre os sintomas apresentados”, explica o especialista.
Em alguns casos, a fase da menopausa e climatério é assintomática. No entanto, a maioria das mulheres começa a apresentar sintomas de intensidade variável já no início do climatério, sintomas que se intensificam com a diminuição progressiva das concentrações dos hormônios sexuais femininos.
Menopausa e a saúde bucal da mulher
Estudos comprovam que as mudanças fisiológicas associadas à menopausa podem afetar, de maneira incisiva, a saúde bucal da mulher.
Dr. Kignel, que é considerado uma das mais respeitadas referências em diagnóstico oral no Brasil, enfatiza que a mulher tem necessidades especiais relacionadas à saúde bucal nas diversas fases da vida. As mudanças nos níveis de hormônio, que ocorrem na puberdade, seguidas da menstruação, gravidez e menopausa tornam as gengivas mais sensíveis à placa bacteriana. Nessas etapas da vida, as mulheres não podem se esquecer de escovar bem os dentes e usar fio dental todos os dias, para evitar a gengivite. “Na menopausa, os sintomas bucais geralmente são gengiva avermelhada ou inflamada, desconforto, sensação de ardência, sensação de alteração do paladar e boca seca. Outro dado importante é a relação entre a osteoporose e a perda óssea nos maxilares. Os pesquisadores sugerem que isto pode levar à perda de dentes, devido à diminuição da densidade dos ossos onde os dentes estão inseridos. Juntamente com a osteoporose, a doença periodontal acelera o processo de perda de estrutura óssea ao redor dos dentes. As variações hormonais ocasionadas pela menopausa são diversas, entre elas alterações que podem levar a sintomas bucais desfavoráveis. É muito importante que as mulheres que passam por este momento conversem com seu dentista sobre qualquer modificação na saúde bucal”.
Confira abaixo algumas das alterações que podem estar associadas à menopausa.
- Síndrome da boca ardente: essa alteração hormonal causa dor intensa e pode afetar a língua, lábios, palato, gengivas e áreas de suporte da dentadura.
- Xerostomia: ocasionada pela diminuição da saliva, pode propiciar o aparecimento de cáries e mau hálito.
- Alterações na mucosa: a gengiva pode sangrar com facilidade e parecer pálida, seca e brilhante.
- Periodontite: pode causar a perda de dentes. As mulheres podem se tornar mais susceptíveis a esta forma destrutiva das gengivas.
- Osteoporose: a perda óssea de tecidos de suporte do dente pode estar relacionada à osteoporose.
- Distúrbios de alimentação: angústia psicológica relacionada à menopausa pode levar a hábitos alimentares inadequados em algumas mulheres, incluindo o vômito intencional. Esses hábitos podem causar trauma à boca, incluindo erosão do esmalte do dente.
No consultório odontológico
A equipe odontológica possui papel fundamente durante este período, muitas vezes conturbado, para garantir a perfeita saúde bucal da mulher. “A complexidade das manifestações causadas pela menopausa à saúde da mulher exige atendimento multiprofissional e, com certeza, o cirurgião-dentista deve ser requisitado”, defende o estomatologista, que afirma que a conscientização da população com relação a essa realidade feminina deve começar nas fases mais precoces de suas vidas, no intuito de minimizar todos os sintomas. “Toda e qualquer conduta odontológica deve ter enfoque preventivo, embasado nos cuidados essenciais de higiene e na manutenção da saúde bucal. Proceder com orientações sobre o uso de fio dental, escovas macias, enxaguatórios específicos ao problema relatado e observado, assim como visitas regulares ao dentista para limpeza e procedimentos no geral”.
É de extrema importância a regularização do fluxo salivar, tendo em vista que a saliva desempenha um papel importante na limpeza das papilas gustativas da língua, responsáveis pelo reconhecimento do sabor dos diferentes alimentos. O resultado é que a percepção de sabores fica prejudicada e, desta forma, faz com que o mau hálito fique mais perceptivo nestes pacientes. “Devemos realizar o tratamento da xerostomia, assim como aliviar os sintomas de ardência bucal, procedendo com o uso de saliva artificial, enxaguantes que promovem a reposição de enzimas perdidas na saliva, lubrificante lingual, cremes dentais apropriados e o uso da laserterapia com infravermelho”, esclarece o especialista.
Com relação a pacientes fumantes na menopausa, Dr. Kignel pede bastante atenção, pois o cigarro funciona como catalizador para infecções e perdas dentárias, agravando o grau da doença. “Nós, como profissionais da saúde, devemos estimular o paciente a abandonar esse vício, e qualquer outro que seja desfavorável à sua saúde e bem-estar”, conclui o autor do livro “Estomatologia, bases do diagnóstico para o clínico geral”, única obra de Odontologia a receber o primeiro lugar do concurso Jabuti, em Ciências da Saúde.