No dia 21 de março é celebrado o Dia Internacional da Síndrome de Down, condição genética causada pela presença de três cromossomos 21 nas células dos indivíduos, em vez de dois. Por esse motivo, atualmente é mais amplamente chamada na comunidade médica como Trissomia do Cromossomo 21. Além de comprometimento cognitivo, pessoas com Síndrome de Down apresentam algumas características físicas em comum e alguns problemas de saúde são mais frequentes.
De acordo com o Sistema de Informações sobre Nascidos Vivos (Sinasc), foram notificados no país 1.978 casos de Síndrome de Down de 2020 a 2021. Ainda de acordo com o Sinasc, a prevalência geral da doença no Brasil, neste período, foi de 4,16 por 10 mil nascidos vivos. Em relação às regiões com maiores prevalências, destacam-se o Sul (5,48 por 10 mil) e o Sudeste (5,03 por 10 mil).
O conhecimento acerca das peculiaridades é fundamental para dispensar o atendimento adequado. Com objetivo de contribuir para qualidade de vida do paciente com Síndrome de Down, o Conselho Regional de Odontologia de São Paulo (CROSP) aproveita a ocasião para difundir informações importantes.
A cirurgiã-dentista e membro da Câmara Técnica de Odontologia para Pacientes com Necessidades Especiais do Conselho Regional de Odontologia de São Paulo (CROSP), Dra. Tatiane Marega, explica que, em se tratando de saúde física e oral do paciente com Síndrome de Down, podem-se encontrar os seguintes aspectos com maior frequência: baixa estatura, agenesias (anomalia que causa a ausência de um ou mais dentes na cavidade bucal), respiração bucal, língua fissurada, atraso e modificação da sequência de erupção dos dentes, atresia ou estreitamento de palato, hipotonia muscular (diminuição do tônus), fusão de dentes, comprometimento da articulação temporomandibular (ATM) e doença periodontal.
“Concomitantemente ao atraso da erupção, que é observado em uma porcentagem considerável dos pacientes com Trissomia do Cromossomo 21, pode ocorrer uma alteração na erupção da dentição permanente, com o despontamento primeiramente dos primeiros molares, e só depois dos incisivos. A agenesia dental pode estar presente em até 63% dos indivíduos com Trissomia do Cromossomo 21, em ambos os sexos, sendo comum a falta de dois ou mais dentes por indivíduo”, relata a Dra. Tatiane Marega.
Os dentes com maior frequência de ausência na dentição permanente são os terceiros molares, incisivos laterais superiores e inferiores e os pré-molares superiores. Na dentição decídua (dentes de leite), ocorre de forma mais comum com os incisivos laterais superiores e inferiores.
Alterações da tireoide
As alterações da função da tireoide são comuns na população com Trissomia do Cromossomo 21. Sua prevalência gira em torno de 25%.
De acordo com a especialista, o atraso de erupção dos dentes do paciente pode estar ligado a doenças sistêmicas como o hipotireoidismo ou um fator local como a fibromatose gengival (condição bucal rara, clinicamente manifestada por um crescimento lento, progressivo, difuso e benigno dos tecidos gengivais).
Dra. Tatiane esclarece, ainda, que os sintomas em crianças incluem redução do crescimento, atraso no desenvolvimento do esqueleto, atraso na erupção dental e puberdade tardia. De acordo com a especialista, não há comprovação científica sobre uma causa específica para o desenvolvimento desta disfunção na tireoide desses pacientes, mas é possível que a Trissomia do Cromossomo 21 seja um fator permissivo para alteração no sistema imunológico, fazendo aumentar as chances de surgimento de doenças autoimunes.
“A doença periodontal também está muito presente nos pacientes com Trissomia do Cromossomo 21. A doença periodontal nesses pacientes é caracterizada por uma evolução rápida, abrangendo principalmente adolescentes, mas podendo ter início na infância. Portanto, deve ser observada e controlada desde cedo”.
Tratamento odontológico
O tratamento odontológico pode ser realizado em ambulatório por um especialista em pacientes com necessidades especiais ou por um cirurgião-dentista que se sinta capacitado em atender os pacientes com a condição.
Para Dra. Tatiane, é de suma importância colher uma anamnese minuciosa, pois os pacientes podem ter algumas alterações sistêmicas importantes, tais como cardiopatias que, dependendo de sua complexidade, podem exigir um plano de tratamento diferenciado. “Em casos de grande complexidade sistêmica associada a tratamentos curativos extensos, o tratamento hospitalar pode ser indicado”.
Outro aspecto a ser levado em consideração, segundo a especialista, é a alteração na articulação atlantoaxial, que promove a comunicação entre a primeira e a segunda vértebras cervicais. Ela explica que, em 8 a 31% dos pacientes com Trissomia do Cromossomo 21 ocorre um defeito nessa articulação que gera uma distância maior que 5 mm (valor máximo normal), podendo causar algum tipo de compressão da medula espinhal durante movimentos bruscos de flexão e extensão. Sendo assim, o posicionamento na cadeira odontológica dos portadores de Trissomia do Cromossomo 21 que possuem essa alteração deve ser observado.
“Como vimos, esses pacientes têm uma série de características gerais e bucais peculiares, então o conhecimento e manejo dessas características permitirão um tratamento seguro e adequado a essa população”, finaliza Dra. Tatiane.
Fonte: Assessoria de Imprensa do CROSP