Com o aumento dos casos da monkeypox e com a declaração de emergência de saúde pública decretada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) no dia 23 de julho, o Conselho Regional de Odontologia de São Paulo (CROSP) destaca a importância de seguir as medidas do protocolo de biossegurança adotadas na rotina dos cirurgiões-dentistas, medidas que são suficientes para a segurança dos pacientes e dos profissionais de Odontologia em relação ao surto da doença.
O Centro de Informações Estratégicas e Vigilância em Saúde (CIEVS), da Secretaria Municipal da Saúde de São Paulo, informa que a varíola dos macacos é uma doença causada pelo vírus Monkeypox, do gênero Orthopoxvirus e família Poxviridae. O nome deriva da espécie em que a doença foi inicialmente descrita, em1958.
Segundo a área de Competências em Controle de Infecção Hospitalar (CCIAH) do Hospital Emílio Ribas, esse vírus é típico em animais, especialmente roedores da África, tratando-se de uma zoonose. É um vírus DNA que se dissemina a partir do contato com secreções respiratórias, feridas infectantes, contato sexual e por contato com roupas, objetos e superfícies contaminadas (fômites).
De acordo com o cirurgião-dentista Dr. Celso Lemos, professor associado do Departamento de Estomatologia da Faculdade de Odontologia da USP, caso o paciente apresente alguns dos sintomas, cabe ao cirurgião-dentista considerar um caso suspeito. Qualquer pessoa, de qualquer idade, que apresente vesículas, bolhas ou pústulas na mucosa oral ou na pele, e se este quadro for acompanhado por dor de cabeça, início de febre acima de 38,5°C, linfonodos inchados, dores musculares, no corpo, nas costas e fraqueza, é imprescindível que o indivíduo procure um serviço de referência para realizar a pesquisa diagnóstica e confirmar ou descartar a doença.
Até o momento, sabe-se que as lesões da pele são infectantes até que haja queda da crosta e reepitelização (reparo no tecido da pele) da ferida. A principal recomendação é conscientizar os profissionais sobre os sinais e sintomas da varíola e realizar uma anamnese meticulosa, a fim de reforçar a prevenção da doença.
Surto
Devido ao surto da monkeypox, é essencial (além de fazer uma anamnese cuidadosa antes do atendimento) o uso de Equipamentos de Proteção Individual (EPIs), como máscaras, luvas e óculos. O reforço na desinfecção das superfícies e esterilizações adequadas são fundamentais também, já que esse procedimento faz parte do dia a dia dos atendimentos odontológicos.
Em geral, recomenda-se que se o paciente for diagnosticado com a varíola, a regra é que ele se isole por cerca de 21 dias até que os sintomas desapareçam. Porém, se houver algum caso de urgência odontológica, como dor ou infecções graves, o paciente pode ser atendido pelo Cirurgião-Dentista, desde que as recomendações de biossegurança sejam seguidas rigorosamente.
Vale reforçar, principalmente no que tange à aerossolização (dispersão no ar de um material líquido ou solução), que o paciente deve ser orientado a fazer previamente um bochecho com Clorexidina aquosa, visando a diminuição imediata e pré-atendimento da carga viral na cavidade bucal. Sempre que possível usar o sugador, de preferência bomba a vácuo, e orientar o paciente a evitar ficar se movimentando, o que poderia levar à ruptura de lesões bolhosas, além do aumento da aspersão, de acordo com a CCIAH.
O protocolo de biossegurança usado para o cenário atual da monkeyepox é o mesmo já utilizado pela classe Odontológica. Esse protocolo já era rigoroso. Com a Covid-19 foi aperfeiçoado e as medidas adotadas são suficientes, afirma Dr. Celso Lemos. Acesse o Manual de Biossegurança do CROSP.
A CCIAH reforça que, da mesma forma que foi feito com a Covid-19, é imprescindível o rastreamento prévio a fim de saber as condições de saúde do paciente eletivo. Assim, a anamnese torna-se indispensável a cada consulta, pois será preciso checar se o paciente está com algum dos sintomas, devendo haver pesquisa sobre aparecimento de lesões cutâneas (e outros sintomas), uma vez que elas possuem alto grau de infectividade da fase cicatricial (fase de crostas) à reepitelização da área acometida pelas lesões.
Lesões intraorais
O professor de Estomatologia da USP, Dr. Celso Lemos, alerta que a monkeypox pode acometer, inicialmente, a boca e a face. “Há relatos de que as primeiras manifestações ocorreram nessa região. A erupção cutânea dolorosa e profunda aparece tipicamente primeiro no rosto, com possíveis lesões intraorais, antes de se espalhar a outras partes do corpo. O paciente apresenta linfadenopatia, febre, dor de cabeça, fadiga e dores musculares, que são os sintomas iniciais mais comuns e aparecem antes de as lesões se desenvolverem”.
Dr. Celso completa que nos casos atuais, em que os pacientes apresentarem lesões orofaciais vésico-bolhosas, o mais prudente é que o Cirurgião-Dentista inclua no diagnóstico diferencial a hipótese de varíola. Ele acredita que os profissionais podem e devem ajudar a reduzir a propagação do vírus.
“O risco de transmissão da varíola em consultórios odontológicos é baixo. Cirurgiões-Dentistas e equipes podem agora tomar medidas para minimizar a propagação do vírus, estando conscientes de que a doença pode ser disseminada por gotículas respiratórias a curta distância e através do contato físico presencial. Podem ajudar, ainda, mantendo-se informados sobre casos na sua comunidade, atentos aos comunicados das Secretarias de Saúde locais e realizar rastreio adequado dos pacientes e funcionários”.
Para finalizar, o cirurgião-dentista diz que é importante manter atenção especial em relação às pessoas que tiveram contato com pacientes positivos, devendo estes permanecerem isoladas, pois o período de incubação varia de 6 a 13 dias, podendo chegar a 21 dias, segundo a OMS.
Vale reforçar que o procedimento, em caso de suspeita de o paciente estar contaminado pela varíola, é interromper o tratamento odontológico e orientá-lo a buscar auxílio médico para confirmar ou não o diagnóstico.
Confira os períodos da infecção
- Período de incubação: pode variar de 5 a 21 dias
- Período de manifestação clínica: de 6 a 13 dias (podendo levar até 21 dias de intervalo), conhecido como 2 períodos da doença
- Primeiro período – 0 a 5 dias: sintomas gripais, febre e linfadenopatia
- Segundo período – 1 a 3 dias após a febre, e aparecimento de lesões cutâneas, podendo apresentar diferentes aspectos: manchas planas (máculas) ou lesões elevadas (pápulas)
- Lesões bolhosas: podendo ser muito dolorosas, necessitando de analgesia à intervenção em âmbito hospitalar. Tais bolhas podem romper-se ou transformar-se em pústulas (bolhas amareladas com conteúdo purulento)
Todas as lesões, assim como aquela em fase de crostas (lesões com cascas), são contaminantes pela presença do vírus.
Cuidados para o cirurgião-dentista
Não entre em contato com a secreção das lesões, apenas em caso de coleta do material e devidamente paramentado.
Utilize os EPIs: protetor ocular/protetor facial/face shield, máscara N95/similar, paramento descartável com gramatura adequada ao procedimento e luvas de procedimento.
Caso observe que houve quebra da barreira, observando umedecimento, fazer a troca imediata da paramentação.
Cuidados para o paciente
Caso positive para a doença, faça isolamento até que esteja completamente fora de risco e de disseminação do vírus.
Mantenha as lesões cobertas para diminuir o risco de disseminação, caso tenha realmente que sair do isolamento.
Fique atento!
Se sentir algum dos sintomas, fique atento: início de febre acima de 38,5°C, linfonodos inchados, dores musculares, no corpo, nas costas, fraqueza profunda, lesões, vesículas, bolhas ou pústulas. E se este quadro for acompanhado por dor de cabeça, procure imediatamente um serviço de saúde.
Monitoramento da Monkeypox
Atualmente, existem casos confirmados de monkeypox em 50 países. O Brasil já ultrapassa os 4 mil casos de varíola dos macacos confirmados, de acordo com o Ministério da Saúde, sendo a maior parte deles no Estado de São Paulo.
O Ministério da Saúde montou uma Sala de Situação da monkeypox, que foi instalada no dia 23 de maio. Através da sala, a pasta monitora as notificações da doença no país e no mundo, além de realizar a investigação dos casos.
De acordo com o Ministério da Saúde, “a sala tem atuado na padronização das informações e na orientação dos fluxos de notificação e investigação para as Secretarias de Saúde Estaduais, Municipais e Distrito Federal, bem como para os Laboratórios Centrais e de Referência de Saúde Pública” (texto informativo do site oficial do Ministério da Saúde).
Nota técnica do Ministério da Saúde. Clique aqui
Nota técnica da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA). Clique aqui
Fontes consultadas
- Cirurgião-dentista Dr. Celso Lemos, professor associado do departamento de Estomatologia da Faculdade de Odontologia da USP
- Cirurgiã-dentista Dra. Mary Caroline (Maine) Skelton-Macedo, mestre e doutora em Endodontia pela FOUSP; pós-doutorado em Teleodontologia, pela FMUSP
- Cirurgiã-dentista Dra. Sandra Crivello, docente de curso de graduação de Odontologia, mestrado em Ciências – Infectologia em Saúde Pública, especialista em Odontologia para Pacientes com Necessidades Especiais, Habilitação em Odontologia Hospitalar, integrante do corpo clínico do Instituto de Infectologia Emilio Ribas
- Prof. Dr. Nilton José Fernandes Cavalcante, Infectologia – CREMESP – chefe da CCIH (Comissão de Controle de Infecção Hospitalar) do Instituto de Infectologia Emílio Ribas
Informações da Assessoria de Imprensa