Práticas Integrativas na Odontologia

Práticas Integrativas na Odontologia

Por: Vanessa Navarro

Amplamente reconhecidas por suas propriedades no que tange o equilíbrio e o restabelecimento da homeostase, as terapias complementares vêm conquistando um espaço considerável na Odontologia.

A história aponta que a prática foi apresentada à classe odontológica entre as décadas de 1970 e 1980, pelo cirurgião-dentista Álvaro Badra. O profissional trouxe, na época, uma nova abordagem ao paciente odontológico, dentro de uma visão integral e humanista, que valorizava o que deve ser o real foco da atenção, muito além da frieza da técnica, do mecanicismo vigente – o ser humano.

O cirurgião-dentista habilitado em Acupuntura e Homeopatia, Dr. Helio Sampaio Filho, conta que, em uma época em que a Odontologia tinha sua atenção voltada para técnicas e medicamentos, o Dr. Badra divulgou, por meio de artigos, cursos, apostilas e livros, a Hipnose, a Acupuntura e a Homeopatia em Odontologia, o que despertou o interesse de toda uma categoria de profissionais de saúde bucal.

“Embora a expectativa dos envolvidos, desde a II Assembleia Nacional das Especialidades (ANEO), realizada no ano de 2002, em Manaus, fosse o reconhecimento de tais práticas como especialidade, em 2008, no Fórum mencionado, passamos a ter o reconhecimento como habilitação. Em termos práticos, nada mudou. Se o reconhecimento como especialidade tivesse vingado, o mercado seria ampliado, pois existe uma oferta muito grande de trabalho, não só por parte dos SUS (PNPICS), como também por parte de convênios, que poderiam absorver uma demanda existente, tanto por meio dos profissionais, como da população que aceita e utiliza as práticas”, lamenta o também presidente da Sociedade Brasileira de Acupuntura em Odontologia –SOBA .

Em 2008, no dia 25 de setembro, o Conselho Federal de Odontologia reconheceu e regulamentou, por meio da resolução 82/2008, o uso, pelo cirurgião-dentista, das seguintes práticas integrativas e complementares à saúde bucal: Acupuntura, Fitoterapia, Florais, Hipnose, Homeopatia e Laserterapia.

Hélio explica que a hipnose, por exemplo, é citada na Lei nº 5081, que regula o exercício da Odontologia. O artigo VI relata que: “compete ao cirurgião-dentista fazer o uso da hipnose, desde que comprovadamente habilitado, quando constituírem meios eficazes para o tratamento”. “Ou seja, já era previsto a habilitação, neste caso, habilitaram o que já era habilitado”, argumenta o especialista.

Quando as práticas integrativas são indicadas?

Segundo o Dr. Hélio, as indicações são as mais variadas, e cada prática possui uma particularidade, porém a ideia central é sempre o equilíbrio do indivíduo, o restabelecimento da homeostase.

“Apesar de não ser o ideal, quando falamos em indicações da Acupuntura na Odontologia, por exemplo, existe uma relação de doenças  que respondem muito bem, como aftas recorrentes, DTM, parestesias, paralisia facial , entre outras, uma vez que o conceito geral da mesma é o equilíbrio geral do indivíduo, estas seriam algumas das atuações dentro do sistema estomatognático, que é nossa área de atuação”, explica o especialista que também atua como diretor do Departamento de Acupuntura da Associação Paulista de Cirurgiões-Dentistas (APCD). “Da mesma maneira, a Homeopatia, baseada no adoecer como sendo um desequilíbrio da chamada energia vital, atua em diversos distúrbios, que vão desde a resolução da ansiedade e medo até os problemas ligados a lesões da mucosa oral, como a síndrome da ardência bucal”, completa o dentista.

Vale lembrar que não existem contraindicações absolutas para a indicação e o uso das práticas integrativas nem tampouco restrições. As contraindicações são relativas. “Pacientes que fazem uso de corticoides, por exemplo, parecem ter uma ‘resistência’ maior, se é que podemos chamar assim, nos benefícios da Homeopatia ou mesmo da Acupuntura. Sabemos de trabalhos em andamento para o uso da Acupuntura em Odontopediatria, assim como em crianças é consagrado o uso da Homeopatia, Terapia Floral, Hipnose e Fitoterapia”, explana o cirurgião-dentista, que defende que o objetivo de todas as práticas é integrar, complementar tratamentos, sempre respeitando as prescrições feitas por outros profissionais e, na medida do possível, interagindo com a equipe médica, em busca de um melhor resultado, uma vez que o foco sempre será o bem-estar do paciente.

Comprovações científicas

Existem diversos estudos científicos que comprovam a eficácia das práticas integrativas e complementares em tratamentos médicos.

Uma das áreas mais pesquisadas, com dados científicos sérios e relevantes, é a Acupuntura. Somente na base de dados Pubmed é possível encontrar mais de 21 mil artigos na última década, o mesmo número pode ser representado para Homeopatia na Biblioteca Virtual de Saúde  (BVS). “Em uma base de dados, considerada bastante exigente em seus critérios, se mesclarmos Laser e Acupuntura, visualizaremos mais de 800 artigos relacionando às duas práticas”, declara o Dr. Helio Sampaio Filho. “Ainda é necessária muita pesquisa, mas enfrentamos problemas, até no nível de preconceitos pelas práticas, pela dificuldade de aceitação por parte de bons periódicos, que costumam recusar artigos relacionados ao tema”.

Quando falamos em artigos científicos relacionados ao uso das práticas integrativas na Odontologia, o número diminui bastante e, de acordo com o Dr. Helio, uma das explicações possíveis poderia ser o não reconhecimento das habilitações  como especialidades odontológicas. A dificuldade em implementar o estudo nas Universidades é outro empecilho para pesquisas mais amplas. Por exemplo, na Faculdade de Odontologia de Ribeirão Preto (Universidade de São Paulo), a renomada Profa. Dra. Maria Cristina Borsato mantém a disciplina Acupuntura e, não coincidentemente, de onde têm sido gerados inúmeros artigos de pesquisa. Recentemente outra colega, a Dra. Ana Cristina Campana, em brilhante tese de mestrado na Universidade de São Paulo, mostra a eficácia da Acupuntura nos casos de Disfunção Temporomandibular. Em recente Revisão Sistemática sobre as PIC (Práticas Integrativas e Complementares) na área odontológica, os pesquisadores Nelson F. Barros e Camila Gonçalo demonstram evidências altamente positivas no uso das práticas na Odontologia. Os pesquisadores citados possuem uma série de outros artigos e teses que podem ilustrar o interesse e as comprovações científicas indagadas”.

Sobre as conquistas

Dr. Helio enfatiza que, no mês de outubro de 2014, São Paulo recebeu a III ANEO (Assembleia Nacional de Especialidades Odontológicas). Acupuntura e Homeopatia defenderam a necessidade do reconhecimento das referidas especialidades e foram aprovadas, sem a necessidade de votação na Plenária Final, ou seja, foram aprovadas como novas especialidades. “Terapia Floral e Hipnose reivindicaram o mesmo, porém não foram aprovadas, devendo permanecer como habilitações. Odontologia Antroposófica obteve aprovação para habilitação. Não conseguimos ainda compreender o porquê da morosidade em tal oficialização, que é de fundamental importância para a classe e mostraria o respeito aos que se dedicam a estas práticas. Somos especialistas, mas não podemos nos intitular como tais”, elucida o profissional habilitado em Acupuntura e Homeopatia.

Hoje, existem duas entidades representativas da Acupuntura e da Homeopatia: a SOBA – Sociedade Odontológica Brasileira de Acupuntura e a ABCDH – Associação Brasileira de Cirurgiões-Dentistas Homeopatas, ambas representam os dentistas acupunturistas e dentistas homeopatas, respectivamente. “Estamos esperançosos de que esta situação se normalize, pois, a conquista não será somente dos profissionais envolvidos, mas de toda a classe odontológica que vislumbra o bem-estar do nosso público-alvo, a população em geral”, finaliza o cirurgião-dentista.

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